ANJO E VIRGEM.
Autor: Bulhão Pato on Thursday, 7 February 2013
Virgem, que era o que sentias Quando ao vento desferias Essas frouxas harmonias De um incerto murmurar? Virgem, que era o que sentias Teu santo seio agitar? Achavas o mundo um ermo, Onde ao coração enfermo Dos horisontes sem termo Não vinha uma aura de amor? Achavas o mundo um ermo, Fertil só de fel e dor? Ou teu suspirar sentido Era por ver desmentido De amor o sonho querido, Que sonhaste, alma gentil? Ou teu suspirar sentido Foi dor ligeira, infantil? Era o teu anjo innocente Que passára mansamente A sorrir divinamente, Mas que outra vez não volveu? Era o teu anjo innocente, Que víras subir ao ceo? E ficaste pensativa Sobre esta terra captiva D'esperança, e d'amor esquiva, Coberta com veo de dó; E ficaste pensativa Ao ver-te perdida e só. Oh! esse tenue gemido Do seio teu despedido, Qual anhelito sumido Que a morte veiu cortar, Oh! esse tenue gemido, Que não pudeste occultar... Foi longo adeus de saudade Aos dias da tenra edade, Que envoltos na eternidade Ligeiros viste fugir; Foi longo adeus de saudade Ao teu primeiro sorrir! Do ceo á terra baixaste, E quando nella te achaste, Tristemente suspiraste Ao ver-te perdida e só; Do ceo á terra baixaste, Á terra de pranto e dó. Virgem, virgem, mal pensavas, Quando triste suspiravas, E num gemido enviavas Longo e doloroso adeus; Virgem, virgem, mal pensavas Que eras um anjo de Deus. Março de 1849.
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