Antes tarde...

Antes tarde
 
nesta noite em que o dia
 
se descalçando
 
abriu caminhos a pegadas
 
demarcadas onde me fiz
 
escravo na tua morada errante
 
 
Antes tarde
 
neste dia perfumado de lentidão
 
onde emolduramos nossos seres
 
inseparáveis
 
que depois abatidos pela monotonia
 
cingida nos lamentos dispersos
 
que respiro eximindo
 
minha calmaria invulnerável
 
 
Antes tarde
 
que nunca
 
e que nunca até me vício
 
miserável
 
por teus acanhados gestos
 
de longanimidade singular decifrável
 
ou que compartilho expectante
 
como poeta trajado de
 
palavras irrefutáveis
 
 
Mais tarde
 
pereçam todas as oportunidades
 
onde ficaram denunciados
 
adoçicados gomos de poesia
 
onde disperso em nós todo
 
aquele oceano indesvendável
 
alimentado por teus selectos mares
 
deambulando em carrocéis
 
alegremente colhidos
 
no charme que transpira
 
cada  insuspeito acto de vida
 
 
Antes esta noite
 
que depois de
 
outro dia apressadamente desfeito
 
na invisibilidade do tempo
 
recalcado em milímetros
 
de emoção que exploro
 
na exactidão do teu amor
 
onde me alojo
 
 
Antes hoje
 
que nunca
 
antes amanhã
 
que ontem
 
antes que depois
 
amanhã nunca complete
 
minha estória repleta
 
de atalhos
 
uns inquestionáveis
 
outros habilmente traçados
 
no assalto final que farei
 
aos nossos desejos inseparáveis
 
Antes nunca
 
por nunca querer-te
 
e depois
 
deixar-te hipotética em cada
 
esquina onde mora
 
o desalento inesperado
 
transladado nas artes do tempo
 
que morre boquiaberto
 
e não mais me revigora
 
 
Antes, amor
 
eu nunca vivesse
 
acorrentado em cada
 
noite desertora
 
acordasse amanhã
 
sem mais chorarmos inultimente
 
sem mais morrer plenamente
 
mas
 
antes tarde que nunca
 
te denominar literalmente
 
em cada drible desta poesia
 
que bendiz meu verso atrevido
 
alucinado pelas memórias
 
que reescrevo sorrateiramente
 
FC
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