Ao Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Marquez, de Ponte de Lima, Ministro de Estado...

_Ao Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Marquez, de Ponte de Lima,
Ministro de Estado, pedindo-lhe o A. licença para ir ao remedio de
banhos, na occazião em que o mesmo Senhor se tinha encarregado de lhe
promever a mercê de se imprimirem as suas Obras na Officina Regia_.

CARTA.

Senhor, entreguei meu livro;
Foi esse filho mesquinho
Co'a esteril benção do Pai
Lançar-se aos pés do Padrinho;

Dei-lhe em dote inuteis rimas,
Dei-lhe vazio thezoiro;
Mas vossas mãos milagrozas
Convertem nadas em oiro;

Do mal fadado Parnazo
Quebrareis o injusto encanto;
Nem sempre seus verdes loiros
Serão regados com pranto;

Impertinentes crédores
Largar-me-hão em fim a rua;
O meu cégo abrindo a bocca
Lhes ha de fechar a sua;

Até apertados genios
Sem vontade comprarão;
Farão focinho á Poezia,
E obzequios á Protecçao;

Mas, Senhor, de livro basta;
He ínsulto ás mãos em que anda
Passar de ser o meu livro
A ser a minha demanda;

Foi esse meu rogo ouvido;
Deixai que para outro mude;
Tem objecto inda mais alto,
He mais do que oiro, he saude;

Contra o mal que me tem feito
Raivozos Caniculares
Me off-rece a fresca Ericeira
Seus claros, sádios mares;

Sei que nestas ondas bravas
O banho hum risco teria;
Posso começallo alli,
E ir acaballo á Bahia;

Bramindo na vasta praia
Enrolada vaga forte,
Dentro do pérfido seio
Me traz a saûde, e a morte;

Mas com protector penedo,
E cauto Marujo amigo,
O impune, tónico susto,
Tórna em remedio o perigo;

Falta só licença vossa,
E juro, Senhor, que vem;
Como podeis Vós negalla,
Se sabeis que ella he hum bem?

He o Pindo o meu thezoiro,
O Oceâno he meu Jordão;
D'ambos recebo mil bens,
Mas todos por vossa mão;

Eu a beijo; ella receba
Gratidão devida, e pura
Em tributo que lhe paga
O Creado, e a Creatura.[26]

[Nota de rodapé 26: Tinha nomeado o A. Official da Secretaria.]

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