AOS CATHOLICOS
Todos vós que sois sinceros crentes,
Que oraes a Deus no intimo do peito,
Oh mysticos christãos;
Embora tenha crenças differentes
D'aquellas que seguis, eu vos respeito,
E julgo como irmãos!
Eu amo a Deus; depois a Humanidade;
Depois os bons, e d'estes o primeiro,
É Christo, o Redemptor!
Não sendo egual em tudo á Divindade,
É, como justo e homem verdadeiro,
Meu mestre e meu mentor!
Embora por fanatico me tomem
Impios e atheus, se os ha, eu lhes confesso,
Que o Martyr da Paixão
Parece-me tão grande como homem,
Que até sinto vertigens quando messo
Seu terno coração!...
Oh meu Jesus! nas luctas pela vida,
Por onde tanto naufrago fallece
No meio da viagem:
Minha alma soffredora e dolorida,
Cahiria tambem se não tivesse
A tua doce imagem!...
Eu que creio que o facho da sciencia
Nos ha de revellar, ao fim de tudo,
Que em nós se concilia
Rasão e Fé, Justiça e Consciencia:
Ah quero-te Jesus! por meu escudo,
Por meu amparo e guia!
Na Sé de Lisboa
na quarta feira de trevas
1888.