Aos pés do acaso

Tormento, a primeira palavra que vem à mente; sinto, pois, angústia tenho ao deleite do movimento. O movimento atualiza as potências, ao tempo que rasga milhares de outras possibilidades, como uma veia perscrutada pela seringa. O vai e vem do acaso é lúgubre, ele me deixa medo, imagine só tudo o que pode ocorrer: tragédias, alegria, miséria e vidas. Morrer ou ser? Eis a dicotomia que ronda minha morada, feito gárgula faminta por carne fresca.

Os músculos se contorcem com a chegada da ansiedade, tudo é sempre intenso; a dor quando vem, é contemplada no horrível, vem sem piedade, como um soldado americano no conflito entre potências. Isso é o que resta ao homem, o sofrimento desnecessário, sem razão de ser e entender. Mesmo no reino nos céus, o sofrimento seria iminente: nos enforcaríamos, nos odiaríamos somente pelo ato de fatigar o tédio. A dor é superável, nós suportamos tudo e sabemos disso. Sofrer é o pecado que atenta a virtude — só com indulgência caminhamos à escada do apogeu.

Talvez a dor seja o alerta da alma para entendermos que a ponderação e persistência são as sirenes da redenção. Quem está ao jugo dessas sirenes sou eu.

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