APPELLO SUPREMO!

A minha alma immortal n'este exilio onde existe,
      Abrigando no seio a ideaes tão risonhos,
      E entre os homens só vendo um sarçal ermo e triste,
      Onde outro'ra plantára o jardim dos seus sonhos:

      Teve a sorte cruel d'uma flôr, que enganada
      Pelos raios do sol, ainda inverno e entreabrio;
      Mas que dias depois, co'o cahir da geada,
      E o soprar do nordeste, afinal, succumbio!...

      Assim foi para mim o florir dos amores,
      N'essa quadra febril em que o sangue é fecundo,
      Quando rompe a manhã, quando abrem as flôres,
      Quando o Sol brilhante e o azul é profundo!...

      Nem ha rocha no mar, pelas ondas batida;
      Nem ha nuvem no ceu, pelo vento açoutada;
      Nem ha rosa n'um val' pelo sol esquecida,
      Que se possa dizer mais do que eu desgraçada!...

      Mas se o mal nos incita, e Deus quer nos transporte
      D'um estadio a outro estadio atravez muito custo,
      Em demanda do _Bem_, que triumpha da morte:
      Deves crêr do Porvir no Ideal santo e augusto!

      E se foste, minha alma, a illudida afinal,
      Quando crêste emplumar nesta quadra o teu ninho,...
      Pede a Deus que te envie aquella hora fatal
      Que abre a porta á Verdade e vae tu teu caminho!...

      Oh Justiça increada! oh meu Deus! oh meu Pae!
      Tu que a mim me mostras-te o teu seio, esse abrigo
      Da _Bellesa_ e do _Amor_, que me envolve e me attrae:
      Dá-me as azas Senhor, com que vá ter comtigo!...

Lisboa, 1869.

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