BADIOU, Alain - Filósofos Modernos e Contemporâneos - Ensaios
BADIOU, Alain
1937
O Espaço e o Ser – A Ontologia
Nascido em Rabat, Marrocos, mas de nacionalidade francesa, BADIOU é celebrado por sua Dramaturgia, por seus Romances e, claro, por sua Filosofia.
Nessa última, sobressai a defesa intransigente do Comunismo em geral e, particularmente do Maoismo, do qual é ativo militante.
O Maoismo marcou-lhe, sobretudo, devido a sua forma de lutar, que ao contrário do ocorrido noutros lugares, aconteceu a partir do meio rural em direção às cidades em uma guerra de longa duração.
Diferencial, aliás, que foi determinante para arrebanhar outros inúmeros admiradores que, como o Filósofo, viam no Movimento uma forma de libertação mais radical e pura.
E é o radicalismo a característica mais proeminente no Ideário desse franco-árabe, como veremos no desenrolar do presente Ensaio.
NOTA do AUTOR - sabe-se que o Maoismo é um desenvolvimento teórico do Marxismo-Leninismo. Idealizado e realizado na China por MAO TSÉ TUNG (1893 – 1976) serviu como base ideológica para o grupo de combatentes que derrubou o Governo do Kuomintang de Chiang Kai-Shek e implantou o Regime Comunista no País, com a tomada do Poder pelo Proletariado urbano em conjunto com o Campesinato.
Notas Biográficas
Filho de Raymond BADIOU*, Alain desfrutou de uma infância confortável e pródiga em Cultura e em Política.
NOTA do AUTOR - (Raymond, 1905-1996, foi membro da SF10 [Section Française de L’INTERNATIONALE Ouvrière], membro da Resistência Francesa durante a ocupação alemã na 2ª Guerra Mundial e Presidente eleito da Câmara de Toulouse [1944-1958]).
Após os estudos primário e médio, cursou Filosofia na École Normale Supériure de Paris entre 1956 a 1961 e graças aos seus méritos, após a formatura, lecionou na mesma de 1969 até 1999 quando foi nomeado Diretor do Departamento de Filosofia.
Também foi Professor na Universidade de Paris VIII e ministrou concorridos Cursos e Seminários no Collège International de Philosophie.
Em paralelo à sua carreira Acadêmica, teve uma vigorosa militância política; a qual, se atualmente perdeu em intensidade física, ganhou em notoriedade graças à revitalização que seu Ideário experimenta na contemporaneidade.
Com efeito, suas Obras (abaixo listamos as mais destacadas), ocupam o centro das atenções dos estudiosos hodiernos, que saboreiam nas mesmas a vasta erudição e a profundidade das reflexões do autor.
1. Teoria do Sujeito, 1982.
2. O Ser e o Evento, 1988.
3. Manifesto pela Filosofia, 1989.
4. Ética: um Ensaio sobre a Consciência do Mal, 1993.
5. Pequeno Manual de Inestética, 1998.
6. Circunstâncias, 2004.
7. Lógicas dos Mundos, o Ser e o Evento II, 2006.
8. Segundo Manifesto pela Filosofia, 2009.
BADIOU foi membro fundador do PSU (Parti Socialiste Unifié) em 1960 e participou ativamente do movimento ocorrido no célebre Maio de 1968.
Como simpatizante do Maoismo também ingressou na Union des Communistes de France Marxiste-Leniniste, em 1969.
Na atualidade, exerce sua militância no grupo ultraesquerdista denominado L’organisation Politique, junto com Sylvain Lazarus e Natacha Michel.
As Ideias e as Polêmicas
Em termos afeitos à Filosofia propriamente dita, pode-se dizer que as influências que recebeu para a construção de seu Pensamento vieram basicamente de seu mestre Louis Althusser, principalmente pelos primeiros trabalhos epistemológicos do mesmo (ie, sobre as questões relativas à aquisição de Saber, Conhecimento) e dos célebres Jean Paul Sartre e Jacques Lacan.
Também se pode dizer que a sua postura em relação a alguns temas da Filosofia é singular, como no caso da Metafísica em que ele questiona a Metafísica Clássica, mas também rejeita a atual tendência Materialista Positivista de negar a “Verdade” enquanto Categoria Teórica (ou seja, que só seria realmente “verdadeiro” aquilo que fosse concreto, físico, material. Nada que esteja no campo da Abstração pode ser considerado como “verdade”).
No campo das teorias, é clara a sua predileção pelo ramo da Ontologia (que, como se sabe, é a parte da Filosofia que estuda o Ser enquanto Ser; ie, que indaga o que realmente existe para além do que conhecemos. Que investiga o Ser despido de suas características individuais que os nossos Sentidos [tato, visão, audição, paladar e olfato] podem captar e o Raciocínio conhecer).
Ali, ele defende, principalmente, a sua Tese de que “As Matemáticas” são a verdadeira Ontologia (talvez a única). Afirmativa, aliás, que ele expressa magistralmente em seu livro O Ser e o Evento, de 1988.
É certo que tal afirmação causou polêmica com os mais ortodoxos, mas também lhe deu um grande reconhecimento pela sua ousada proposição de alterar um dos dogmas da Filosofia Clássica.
Em 2006, com a publicação de “Lógicas do Mundo: O Ser e o Evento” ele retomou o tema Ontologia, e as suas polêmicas, para tratar das Lógicas relativas ao aparecimento dos Seres nos Mundos, ou nas “situações” em que tais aparecimentos acontecem.
Mas as polêmicas que lhes são próprias não se esgotam no campo teórico e ele também é conhecido pela virulência de suas criticas a Democracia Liberal e aos Direitos Humanos, os quais, segundo sua ótica, não passam de falsos sustentáculos do Capitalismo Selvagem, que se torna cada dia mais dominante em todas as partes.
Dessa sorte, tanto no terreno da Teoria, quanto no da Política ele vaga com seu Raciocínio brilhante, acrescentado mais luz ao Saber existente.
Porém, para muitos a complexidade de seu Sistema o torna incognoscível e é por isso que, aqui chegados, será oportuno analisarmos algumas de suas *concepções para melhor compreendermos os meandros de seu Ideário.
*NOTA do AUTOR - Essas concepções foram pinçadas em seus escritos e na entrevista que ele concedeu a Normam R. Madarasz e Mario Constantinou. A íntegra da mesma pode ser lida na “Revista Ethica” V.15 – N.2 – pgs. 21-40 – Tradução de Filipe Ceppas de Carvalho e Faria. Rio de Janeiro – RJ.
Ética
... Renunciarei, provavelmente, a todo uso da palavra “Ética” em virtude de existirem incontáveis contradições em torno da mesma. Acredito que o que existe de fato são “regras” hiperdependentes de circunstâncias agravantes ou atenuantes e que é preciso considerá-las.
Eu já havia afirmado que não há uma “Ética Geral”, mas apenas “Éticas” ligadas a processos, ou a fatos, ou a acontecimentos singulares e, por isso, com “Verdades Singulares”, ou seja, referentes apenas àqueles determinados fatos ou processos.
Será preciso, pois, avançar nesse campo de estudo e enquanto isso “obrigar” que a decisão mais justa possível, para cada caso, seja tomada e respeitada. Afinal o valor da verdade é superior a todos os outros...
NOTA do AUTOR – considere-se que conceitos como “Verdade”, aqui não estarão sujeitos a qualquer Relatividade, pois se tal acontecesse, a consideração de BADIOU seria prejudicada.
Fechamento – Abertura (01)
... A “Abertura de Mercados” é uma das bandeiras mais caras às Democracias Capitalistas Ocidentais. Alegam que repousa sobre a “Economia de Mercado” e a “Circulação de Capitais” o seu modo de vida e que o mesmo possui tal “Superioridade” que é normal que seja alardeado como panaceia universal.
Mas o fato é que tal Sistema apoia-se na exploração dos Países Ricos sobre os Subdesenvolvidos, repetindo uma prática que ocorre desde a época das colonizações.
Ademais, é ostensivamente cínico o fato de que os que mais celebram a chamada “Abertura”, ou “Globalização” são os mesmos que recusam a livre circulação de pessoas, promovendo toda sorte de barreiras à imigração (principalmente a oriunda dos países pobres) e promovendo toda forma de perseguição (oficial ou informal) contra quem consegue passar pelas malhas de suas fronteiras.
Segundo BADIOU, esse “Movimento de Globalização” encontra alguns de seus princípios no “Vitalismo” de HENRY BÉRGSON e de DELEUZE, já que nos Ideários de ambos é de fundamental importância a ideia de que a “Vida é uma potência (ou um poder) Aberta” e está além das restrições formais de Nacionalidades, Alfândegas, Países, Etnias etc.
E prossegue no tema alfinetando KARL POPPER que, segundo sua ótica, melhor teorizou essa “Abertura”, haja vista que em seu livro “A Sociedade Aberta e os seus Inimigos” ele formaliza sistematicamente essa movimentação e alerta sobre os supostos perigos que ela pode acarretar (sic) aos Países Desenvolvidos.
Vê-se, pois, que o assunto é uma espécie de “Dialética Sofisticada (no sentido de contradição)” entre o Aberto e o Fechado.
Contudo, para ele, essa sofisticação não esconde a hipocrisia que reina no Capitalismo e que se manifesta no cinismo desse tipo de Discurso.
A prática política toma a mesma distancia da Filosofia, que a Ética toma do comportamento...
Fechamento – Abertura (02)
... Não reconheço nenhuma hierarquia, ou escala de valores, entre o “Aberto” e o “Fechado” (ie, eu não consigo ver em quê um deles pode ser positivo e o outro negativo).
Na Política é possível observar que existem circunstâncias onde o “Fechamento” é uma necessidade imperiosa, como acontece, por exemplo, no caso de um Estado Revolucionário que não pode permanecer “aberto ao Mundo”, pois se assim fizer corre o risco de sofrer uma contrarrevolução por parte das classes desalojadas e destituídas do antigo poderio e fortuna.
Ou, então, para se defender das Potências Capitalistas que usam sem qualquer pudor o falacioso discurso de “Abertura de Mercado” para encobrir suas reais intenções de dominação através da hegemonização de sua Ideologia, ou com o uso das armas.
Também em outro terreno, mais especificamente no campo Amoroso, o “Fechamento” também é uma característica necessária (exceto, é claro, para os indivíduos e ou casais que optam pelo exibicionismo) haja vista que é nesse espaço que os indivíduos praticam seus atos mais íntimos.
No terreno técnico, pode-se dizer que a Matemática (aqui vista como uma expressão do Pensamento Lógico e Racional) construiu uma “Linguagem Fechada” para se prevenir da duplicidade, ou até da multiplicidade de interpretações que linguajar coloquial permite.
Por tudo isso, diz BADIOU: eu vejo com reservas essa apologia atual à Abertura e temo que ela seja apenas mais uma peça de propaganda destinada a promover os interesses escusos das Elites do Mundo...
A Obra de Wagner
... Com efeito, há duas interpretações possíveis para a obra de Wagner (Richard, Alemanha, 1813 – 1883, considerado o maior compositor germânico).
À primeira darei o nome de “alemã” e direi que é aquela que se apoia na Ideia de um “Mito Fundador e um Mito da Nação”, heroico e propenso ao sacrifício em prol da “Mãe Pátria”.
À segunda, chamarei de “francesa”. É a que vê nas composições do Maestro um tipo de hino em que se exalta a “Revolução da Comuna” ou a “Revolução Popular, justa”.
Uma música para o Futuro, já que os velhos modelos Políticos foram, ou serão aniquilados pelas novas ideias advindas dos ideais revolucionários.
Observe-se que a interpretação “alemã” serviu tanto para glorificar o Nazismo, quanto para enaltecer o Ideário de Nietzsche (Friedrich, 1844–1900) e a nova música de Adorno (Theodor W. – 1903-1969).
E que a interpretação “francesa” enseja uma discussão livre, democrática, não impositiva, pois há quem admire Wagner sem restrições, como Baudelaire (Charles, 1821 – 1867) enquanto outros, como Mallarmé (Stéphane, 1842 – 1898) julgam-no ultrapassado por sua insistência em glorificar o Estado.
Contudo, o fato de a contradição ser uma idiossincrasia da obra de Wagner, não destoa de sua condição de gênio. Ao contrário, confirma-a.
Importa notar, sobretudo, que os “valores positivos ou otimistas” de sua arte, encontrados principalmente em suas três óperas principais, Parsifal, Tristão e Isolda e Mestres Cantores, superam em larga medida os “valores negativos ou pessimistas” que cantam a morte e o aniquilamento.
E essa constatação acaba por se tornar mais um dos triunfos de sua grande Arte, independentemente de como a mesma é avaliada.
Ainda é necessário reconhecer que a existência dessa dupla interpretação é, em si, um claro sinal de que a fusão da França e da Alemanha pode e deve ser vista como uma boa perspectiva para a criação de um “Pensamento Europeu”, já que o atual dissolve-se no limbo da malfadada “União Européia”.
Comuna de Paris e Revolução Cultural Chinesa.
... O problema deve ser examinado no interior da “Teoria de três etapas” no âmbito daquilo que eu chamo de “Hipótese Comunista”.
A primeira etapa, que vai da Revolução Francesa à Comuna de Paris, estabeleceu o fundamento teórico e prático da hipótese Comunista.
A segunda etapa, da Revolução Bolchevique à Vitória Popular dos Chineses, demonstra que a tomada do Poder, ou a vitória popular, são possíveis, tendo-se o Partido (nos moldes Leninistas) como instrumento.
A terceira etapa, porém, mostra que esse mesmo Partido não é capaz de garantir a “Continuidade no Poder”.
O “Estado-Partido” não foi capaz, por exemplo, de assegurar a realização do que MAO TSÉ TUNG* chamou de “Movimento Comunista”.
NOTA do AUTOR – na verdade, essa afirmativa* de Mao Tsé Tung teve o propósito de justificar a criação da chamada Revolução Cultural. Ele afirmou que em virtude da ineficácia do modelo bolchevique, seria preciso um novo formato para a manutenção do Comunismo Chinês. É claro que tal retórica, segundo a maioria dos eruditos, era falaciosa, pois a real intenção de Mao era apenas assegurar-se no Poder, posição que lhe era cada vez mais difícil de manter.
Sendo assim, a questão da “Continuidade no Poder” ainda está aberta e espera novas soluções, sem que se possa afirmar inclusive, o quão seria imprescindível à própria existência do Partido.
“Estado Franco Germânico”
... Respondendo à sua pergunta sobre o fato de eu considerar necessário o surgimento de um “Organismo francês e alemão” em substituição ao “vetusto aparelho burocrático e ao exaurido Humanismo europeu do Presente”, posso dizer que sim.
Penso, com efeito, que se surgisse no Mundo uma entidade com esse potencial, com essa potencialidade, a “Verdadeira Política” seria facilitada de dois modos:
Primeiro e imediatamente ter-se-ia um entrave à hegemonia estadunidense. Seria um adversário respeitável a atual supremacia e daria “margem de manobra” para os povos do Mundo, a exemplo do que ocorria na época da guerra-fria entre a URSS e os EUA.
Em segundo lugar, a própria construção desse novo Organismo, ou Estado, propiciaria pelo ambiente criado, o surgimento de novos empreendimentos e a renovação dos velhos Estados que hoje constituem uma Europa burocrática e impotente.
Ressalvo, porém, que essa proposta não está no campo da realidade imediata, tratando-se mais de uma reflexão acerca dessa possibilidade.
Ademais, caso venha a se materializar, será obviamente necessário que o seu Governo se paute pelos parâmetros “Progressistas (ie, avançados porque progrediram da velha concepção representada pelo Conservadorismo burguês)” e se utilize de seu enorme potencial para se abrir efetivamente ao Mundo, sem temer uma eventual subjugação, já que o seu tremendo vigor econômico* faria frente às eventuais tentativas de solapamento.
NOTA do AUTOR - aliás, seria esse o fator* determinante para que houvesse a junção entre a França e Alemanha, as duas maiores Economias da Europa atual.
NOTA do AUTOR – pode-se pensar que BADIOU propõe um resgate à pretensão original da Comunidade Européia (cuja criação visava justamente obter tal poder, para que pudesse ombrear com os EUA e com as Potências Asiáticas, especialmente a China e o Japão), mas sem o peso das Economias ineficientes de países como a Espanha, a Itália, a Grécia entre outros, cujas mazelas os jornais estampam diariamente.
Ontologia, Matemática e Existência.
... A tese que afirma ser a Matemática a efetiva e única Ontologia não implica qualquer mudança na matemática atual, pois é incontestável que os seus fundamentos nunca não foram alterados por conta desta sua condição.
Assim, como tosco exemplo desta “Verdade”, poderemos recorrer ao seguinte demonstrativo:
Ontologia = Matemática, porque o “01(um)” É “01(um)”, sem necessitar ser “1(um)”+ mais qualquer coisa, para “Ser”.
O objeto matemático, ao contrário de praticamente todo o resto, não necessita ter qualquer característica própria, ou qualquer atributo para “ser”. Ele É por si.
Vê-se, então, que a Matemática é a “Ciência do SER enquanto SER” e essa definição também se completa por si, dispensando outras formulações.
Porém, o mesmo não se pode afirmar sobre a Existência, já que ela é concebida mais como uma noção de “Lógica” que de Ontologia.
Geralmente se imagina a Existência de um SER, ou de uma Coisa, como uma reunião lógica, organizada de múltiplos elementos, de várias partes.
E não como algo que existe por si. Que existe naturalmente.
Seria mais o “Aparecimento” de uma “Multiplicidade organizada (sic)” num determinado “Mundo (ou numa determinada situação)”.
O próprio fato de se comprovar uma existência ou uma inexistência através do Raciocínio Lógico sinaliza que a palavra e o conceito “Existência” não é uma palavra da Ontologia, mas sim da Lógica Subjacente que afirma:
“existe, de fato, aquilo (Um SER ou uma Coisa) que ao ser afirmado, não acarreta qualquer contradição”.
Ou seja, conclui-se Racional e Logicamente que “algo” existe efetivamente, quando aquela afirmativa não acarreta qualquer dúvida ou rejeição.
Sobre isso, diz BADIOU: Nesse ponto quero acrescentar que a meu ver, o principal defeito do “Intuicionismo*” é limitar a existência a essa falta de contraditório, ou condicionar o existir à situação de que “só se existe em um determinado lugar; que há necessidade de haver um local, ou um espaço (físico, ou mental) para que a Existência se realize”.
Condicionar a existência a um “aparecimento” físico ou mental (mental, nos casos em que o que existe é uma ideia, uma sensação, uma intuição, um sentimento) e a um momento determinado. Ou a uma determinada situação.
Por isso eu digo que o Intuicionismo é uma “Filosofia Sofistica”, já que afirma que só “existe” aquilo que aparece num tempo e num espaço (físico ou mental).
NOTA do AUTOR - *Intuicionismo – na Filosofia da Matemática é a tese que afirma que todos os Objetos da Matemática são produtos de construções feitas pelos homens. Que são “apenas” criações da Mente humana.
“Vazio” Ontológico é igual a “Vazio” Lógico?
Não! São dois vácuos diferentes em sua natureza, ou maneira de ser.
O vazio do Campo Ontológico é o que chamo de “vazio genérico”, a partir do qual se constrói a Multiplicidade (o conjunto de múltiplos elementos que formarão um SER ou uma Coisa). Pode-se dizer que é um “vazio” indefinido, geral.
Já o vazio no Campo da Lógica está diretamente associado ao Ser-aí (ou seja, ao existir aqui, nesse espaço, nesse Mundo).
Na Lógica existe um “vazio” especifico destinado a cada SER ou a cada Coisa que virá existir. É como se fosse uma fôrma a ser preenchida em algum momento, segundo os parâmetros da Racionalidade. O “vazio Lógico” está destinado a uma futura “ocupação” especifica e racional.
Quando o SER ou a Coisa se materializa, concretiza, torna-se física e, portanto, passa a existir de fato, há uma junção entre os dois “Vazios”:
- Ao Ontológico cabe acomodar o SER, o Existir em si.
- Ao Lógico cabe acomodar o Corpo (ou a matéria, o pensamento, o sentimento, o instinto etc.) resultante dessa existência.
Junção, diga-se, que não ocasiona a superposição entre ambos os “Vazios” em virtude da diferente natureza de ambos.
Epílogo
BADIOU continua a ocupar um destacado lugar entre os Pensadores contemporâneos e graças a profundidade de seu pensar, nada indica que sua importância diminua com o correr do tempo. Seu nome, efetivamente, está gravado nas melhores tradições da Filosofia de todos os tempos.
Produção de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, RJ, Brasil, no Outono de 2013