BEAUVOIR, Simone - Filósofos Modernos e Contemporâneos - Ensaios

BEAUVOIR, SIMONE

1908/1986

A Mulher e o Feminismo.

“O homem é definido como “Ser Humano” e a mulher como fêmea”.

 

Em sua obra mais célebre, O Segundo Sexo, a filósofa francesa argumenta que no correr do tempo, o paradigma do que entendemos como “Humano”, tanto em termos filosóficos, quanto gerais é sempre uma visão masculina.

Alguns filósofos, como ARISTÓTELES chegaram a igualar “Humanidade” com “Masculinidade”.

Outros, não ousaram tanto, mas não titubearam em elevar o elemento masculino como padrão segundo o qual a humanidade deve ser julgada; ou seja, toda ação ou pensamento feminino seria tão insignificante que não entraria na equação de erros e acertos do Ser Humano.

Tudo seria condenado ou absolvido conforme o ponto de vista masculino.

Essa visão acabou confundindo inclusive o que se entendia como “libertação feminina”. Por isso, SIMONE BEAUVOIR tinha, entre suas outras preocupações, aquela referente ao fato de as mulheres serem tratadas com certa igualdade, apenas quando agem como se fossem homens.

NOTA do AUTOR – essa lógica torta, talvez também explique o porquê de a homossexualidade feminina ser mais tolerada que a masculina. Segundo esses valores equivocados, o homossexual masculino desceu à condição de mulher; enquanto a homossexual feminina subiu à condição de homem.

Para SIMONE BEAUVOIR, mesmo aqueles que lutam pela igualdade de Direitos, fazem-no imaginando (ainda que de boa-fé) que Igualdade significa que as mulheres podem fazer as mesmas coisas que os homens.

Mas essa é uma visão totalmente errada, segundo a Filósofa, já que não se leva em consideração que os dois gêneros são totalmente diferentes física e emocionalmente.

Portanto, o “bom combate” será aquele que exija os mesmos Direitos Civis, Políticos, Profissionais etc., mas sem a necessidade da mulher violentar-se psicológica e sentimentalmente. Sem a necessidade de a mulher masculinizar-se para fazer jus a Direitos que são seus por natureza e que naturalmente deveriam ser reconhecidos e respeitados.

Destarte, o objetivo a ser alcançado é a conquista da plena cidadania, mas com a preservação integral de sua maneira de Pensar, de Ser, de Sentir, de “estar no Mundo”.

Ter, enfim, o Direito de ser diferente do homem, sem que isso implique em diminuição em suas prerrogativas de cidadã.

SIMONE teve formação filosófica na área da Fenomenologia que, como se sabe, é o estudo sobre como as Coisas (objetos, seres, etc.) se manifestam à nossa consciência.

Segundo esse ideário, cada indivíduo constrói o Mundo a partir de sua própria perspectiva; organiza as coisas e os seus sentidos (seus significados) conforme as situações que vive.

A partir dessa formação, Simone tornou-se uma Existencialista, e como tal assumiu que a sua “Essência” era pura e simplesmente a sua “Existência” como mulher.

E ao trazer a concepção Existencialista para a condição de mulher, buscou separar Ente biológico, a forma corporal com a qual as mulheres nascem, e a “Feminilidade”.

Afinal, segundo ela, esse segundo conceito seria apenas uma Construção Social, um esquema construído segundo os costumes, as normas da sociedade.

Uma invenção dos Seres Humanos, provavelmente oriunda dos primórdios e baseada na maior força física do homem, que com isso assegurou-se da maioria dos privilégios.

E porque qualquer Construção Social está aberta a modificações e a diferentes interpretações, ela insistiu na necessidade de que cada mulher pudesse escolher “ser mulher” da forma que mais lhe conviesse.

Dizia que:já que nos exortam a sermos mulheres, tornemo-nos, então!” Exerçamos as funções naturais de nossos corpos e de nossas mentes e não sejamos obrigadas a pensar e a agir como homens.

Exercitemos, pois, a Feminilidade que nos cobram, porém, sem que essa condição signifique que somos inferiores e que temos menos Direitos.   

Esse ponto, aliás, merecia sua atenção constante e ela não deixava de pregar que as mulheres devem se libertar da ideia de que necessitam ser como os homens as imaginam; bem como, da passividade que lhes é atribuída. E, por consequência, da servilidade a que foram condenadas pela Sociedade.

Que vivessem uma “Vida Autêntica”, mais reflexiva e acima de padrões e valores menores (ser magra, bela, desejável etc. para com isso agradar aos homens), perpetuando a própria servidão.

Afinal, para ela, apenas essa “Vida Autêntica” e a rejeição aos valores burgueses e sexistas, é que garantirá a igualdade enquanto cidadã e o direito a ser diferente enquanto mulher.

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