CAMUS, Albert - Filósofos Modernos e Contemporâneos

CAMUS, ALBERT

1913/1960

CAMUS nasceu na Argélia, à época uma colônia francesa, em 1913. Antes de completar um ano de vida perdeu o pai, morto em combate na 1ª Guerra Mundial.

Criado apenas pela mãe teve uma infância extremamente pobre, mas ainda assim conseguiu se formar em Filosofia na Universidade de Argel.

Aos 25 anos mudou-se para a França e se uniu ao Partido Comunista Francês de onde foi expulso em 1937, dois anos após a sua filiação.

Durante a 2ª Guerra atuou no Movimento de Resistência Francesa editando um jornal clandestino e escrevendo alguns de seus romances, que, posteriormente, fizeram-no famoso.

Além dos Romances, escreveu Ensaios e Peças Teatrais, colocando em cada trabalho a porção de Filosofia que importasse ao texto.

Em 1957, recebeu o Nobel de Literatura e em 1960 morreu, vitima de um acidente de carro.

A Falta de Sentido da Vida

Para CAMUS, somos dotados de Consciência, ou de Racionalidade, e justamente por isso tentamos enquadrar tudo que existe em um tipo de esquema que possa parecer Lógico, ou Racional.

Sendo assim, “sentimos, queremos crer, ou aceitamos a hipótese” de que a vida tenha algumSentido (ou algum significado)”.

Porém, intuitivamente “sabemos” que o universo como um Todo não um tem Sentido, ou Propósito (que ao menos possamos compreender) e esse saber torna a nossa vida é uma eterna contradição.

Um combate constante entre “acreditar, torcer para que exista” e “saber que nada há”.

NOTA do AUTOR - o propósito, a finalidade, o sentido da vida a que Camus se refere, como se disse, está no rol daquilo que podemos captar e racionalizar. Com efeito, se analisarmos friamente todos os trabalhos, as preocupações e até as alegrias do homem veremos que são irrelevantes em relação ao Universo, ao “Todo”. Se eu, por exemplo, não escrevesse este Ensaio, em nada mudaria o curso do Cosmo. Se um cirurgião salva um paciente, na verdade, apenas adiou o momento final do mesmo. As alegrias das conquistas são passageiras e tão logo cesse a endorfina que jogou em nosso cérebro, também cessa o entusiasmo pela mesma. É, portanto, a este tipo de Sentido, de Significado que o filosofo se refere, já que o outro, o Metafísico (que está além da nossa realidade física) não nos é cognoscível e, no caso de CAMUS, por ser Existencialista, nem existe.

Logo, para “viver bem” precisamos superar essa contradição. E para tanto será preciso aceitar a “Falta de Sentido” da existência.

Ou, no mínimo, não se limitar, tampouco se pautar por rigidas normas vazias, que foram criadas arbitrariamente, apenas porque alguém imaginou que a Vida exigiria esse tipo de comportamento por ter algum Significado, fosse ele de ordem espiritual, celestial, ecológica, filosófica etc.

Para melhor ilustrar a questão da vacuidade do que se faz, imaginando-se que se realiza algo significativo, aproveitemos o mito de Sísifo*, sobre o qual CAMUS apoiou a sua teoria, e imaginemos o que ele poderia pensar enquanto descia do monte, para empurrar a pedra novamente.

Achar-se-ia “livre” naquele momento?

Pensaria que o trabalho do homem seria tão repetitivo e tão sem sentido quanto o que ele fazia?

Pensaria que, como ele, o homem luta uma vida toda para só no fim descobrir que tudo que fez foi rolar inutilmente a mesma pedra morro acima?

Pensaria Sísifo, que o homem é ele?

NOTA do AUTOR - *Sísifo foi um rei grego que em certo momento tornou-se desagradável aos deuses que para puni-lo, condenaram-no a rolar uma enorme pedra até o pico de um monte, de onde a mesma caía logo em seguida, obrigando-o a reiniciar eternamente aquele trabalho sem propósito, sem finalidade, sem sentido.

Alguns eruditos (e muitos boçais) afirmam que a função da Filosofia é buscar o “Significado, o Propósito, o Sentido” da Vida.

Para CAMUS, não. Para ele, só cabe à Filosofia reconhecer que a Vida é SEM Sentido. Ou seja, exatamente o contrário.

Em principio sua posição pode parecer extremamente pessimista, mas este juízo não é verdadeiro, pois CAMUS acreditava que se adotarmos, ou nos resignarmos a essa ausência de propósito, estaremos aptos a viver o mais plenamente possível.

Se, de fato, inexiste um significado, uma justificativa, uma recompensa futura para os sofrimentos do homem, que ele possa ser o mais feliz possível naqueles momentos em que “desce do Monte para rolar a Pedra novamente”.

Ou seja, que nos intervalos entre as obrigações vazias a que está condenado, que ele possa experimentar a amplitude da Irracionalidade (quer seja através da música, da poesia, da pintura ou da simples abstração) para fazer apenas aquilo que lhe for prazeroso, sem temer a cobrança do Futuro.

 Sem temer os castigos metafísicos que “Deus judaico-cristão” está sempre pronto a lhe infligir, ou sem temer a censura e os castigos que a sociedade não hesita em aplicar naqueles que afrontam seus códigos.

O leitor (a) que comparar o pensamento de CAMUS com os antigos Ceticismo e Hedonismo, passando pelo Niilismo de Nietzsche e o presente Materialismo não estará totalmente errado, porém, será preciso ver que nele a busca pelo prazer é bem mais que uma simples questão de gozo físico. Que se situa além.

O Existencialista

CAMUS viveu no auge do Existencialismo e foi como Existencialista que escreveu e filosofou.

Por isso, seu “desejo insolente” tomou ares de revolta belicosa contra o Sistema Colonialista, contra o absurdo das guerras que presenciou, contra a hipocrisia da sociedade e contra a “manipuladora fantasia” da Religião.

Mas, na verdade, ele sempre teve certa condescendência com o homem. Quando afirmava, por exemplo, a desimportância, a insignificância e a falta de Sentido em tudo que o homem faz, ele destilava uma sutil amargura pela patética imagem que via em cada indivíduo que ingenuamente acreditava na ilusão de que sua vida teria uma finalidade, um objetivo. Um sentido qualquer.

Ingênua ilusão que geralmente o levava, na falta de algum significado palpável ou real, a criar um significado oblíquo a quem chamava de Deus”, de Outra Vida etc.

Ingênua ilusão que não lhe deixava entender que se há algum objetivo, algum cabimento, algum sentido na vida, esse cabimento está apenas em sua mente, em sua crença, pois o Universo como um Todo, não tem sentido, nem propósito.

O Universo simplesmente É. Existe. E se existe por algum motivo; este motivo está muito além da nossa capacidade de entendimento.

Ingênua ilusão de acreditar que por termos consciência, ou predisposição a sermos racionais, diferentemente dos outros Seres, tornamo-nos o “SER” que encontra Sentido, Significado para tudo; por mais fantástico e absurdo que o mesmo possa ser. Como a invenção dos deuses, acima citada.

Necessitamos da ilusão, da quimera de que existe um Objetivo (maior? Mais sublime?) que compensará o vazio dos nossos cotidianos, ainda que tal dia-a-dia seja recheado de pseudos alegrias, sinceras bondades ou meros entretenimentos, como o dinheiro, o luxo, o sexo, as realizações etc.

O Sentimento de Absurdo

Contudo, por mais que a ilusão possa ser resilente em certo momento o homem depara-se consigo mesmo e sente que lhe assalta o “Sentimento de Absurdo” resultante de seu percebimento da contradição existente entre o fato de que gostamos de crer que há algum Propósito na vida e o nosso conhecimento intuitivo de sua inexistência. De que apenas em nossa mente, ou consciência é que existe algum falso Significado para a rotina inútil da vida.

NOTA do AUTOR – sobre o termo “Absurdo” Camus dizia que ele seria o nome correto da nossa predisposição em pensar que há um o Propósito, ou Sentido para nossa vida.

E CAMUS, como poucos, explorou o que é viver sob essa contradição.

E ante a inexorabilidade do fato, propôs o já citado acomodamento à situação para vivermos dentro do contentamento possível. Em suas palavras: “devemos abraçar o Absurdo”. Aceitar o fato de que a vida é Absurda.

Ou, para os mais ousados, rejeitar o conforto deste “Absurdo” e viver uma constante revolta contra o Universo sem sentido, pois apenas através desse litígio constante é que se teria a única vivência livre das amarras metafísicas, religiosas, ou filosóficas, que anteriormente nos pressionavam como se fossem ameaças reais e constantes.

NOTA do AUTOR - essa ideia foi desenvolvida posteriormente pelo filósofo THOMAS NAGEL que afirmou ser o “Absurdo da Vida” que está na natureza, ou no modo de ser, da consciência; porque, por mais seriamente que encaremos a vida, sempre sobra em nossa mente uma dúvida se tal seriedade não seria questionável. Se, de fato, seria justificável agir como se houvesse algum Sentido, quando se intui que não há Sentido nenhum?

O Niilismo de CAMUS e a sua Época

Como se pode depreender do que se colocou neste Ensaio, CAMUS foi um Niilista extremado que negou peremptoriamente os valores Sócio-Religiosos que ainda tentam acobertar o vácuo existencial.

Tendo vivido numa época permeada por duas guerras mundiais, colonialismos tardios e tendo o “Existencialismo como filosofia preponderante, quase tudo contribuiu para dirigir a sua brilhante inteligência para essa via. Para o estudo mais profundo do ato de viver.

Custou-lhe um alto preço, mas como se viu, a sua integridade intelectual recebeu os louros merecidos que o fazem, ainda hoje, ser um dos Filósofos e Romancistas mais importantes que a França produziu.

 

Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde o Rio de Janeiro, no inverno de 2013

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