CANÇÃO DOS PIRATAS

 

(Traduzido do Corsario de Byron)

      Sobre as ondas do mar azul ferrete,
      Sem limites são nossos pensamentos,
      E como as ondas nossas almas livres,
      Por quanto alcança a doidejante briza
      Cobrindo a vaga de fervente escuma
      Nós temos uma patria! Eis os dominios
      Onde fluctua o pavilhão que é nosso,
      Sceptro a que devem humilhar-se todos!
      Turbulenta e selvagem quando passa!
      Da lucta ao ocio em taes alternativas
      A vida para nós tem mil encantos!
      Mas estes, oh! quem póde descrevel-os?
      Não serás tu, escravo dos deleites,
      Tu, que ao ver-te no cimo inconsistente
      Das alterosas vagas desmaiáras!
      Não serás tu, vaidoso aristocráta,
      Educado no vicio e na opulencia,
      Tu que nem pódes repousar no somno,
      Nem achar attractivos nos prazeres.
      Oh! quem póde no mundo compr'endel-os?
      A não ser o incançavel peregrino,
      D'estes plainos que ficam sem vestigios;
      Do qual o coração affeito aos p'rigos
      Pula orgulhoso em delirante jubilo
      Quando se vê sobre o revolto abismo!
      Só elle présa a lucta pela lucta
      E espera ancioso a hora do combate.
      Quando o fraco esmorece apenas sente
      No mais profundo do agitado seio
      A esperança que vívida desponta
      E o fogo da Coragem que se accende!
      Não nos assusta a morte, oh! não; comtanto
      Que a nossos pés succumba o inimigo,
      E comtudo mais triste que o repouso
      Inda parece a morte! mas embora,
      Embora, oh! póde vir! ao esperál-a
      Vai-se exhaurindo a essencia d'esta vida;
      E quando ella se acaba, pouco importa!
      Caír pela doença, ou pela espada!
      Haja um ente que prese inda algum resto
      D'existencia senil! viva aspirando
      Sobre o leito da dor um ar pesado,
      Erguendo a custo a trémula cabeça!
      Para nós são as relvas florescentes!
      Emquanto ess'alma expira lentamente,
      Foge a toda a pressão d'um salto a nossa!
      Possa ainda ufanar-se esse cadaver,
      Da cova estreita e do marmoreo tumulo
      Que a vaidade dos seus lhe consagrára!
      São raras, mas sinceras, nossas lagrimas,
      Quando o oceano, abrindo-se, sepulta
      No vasto seio os nossos camaradas!
      Inda mesmo no meio dos banquetes
      Funda tristeza nos rebenta d'alma
      Quando a purpurea taça erguendo aos labios
      A memoria dos nossos corôamos.
      E o seu breve epithaphio é redigido,
      Ao por do sol do dia da batalha,
      Ao dividir as presas da victoria,
      Quando a exclamam os rudes vencedores
      Com a fronte anuviada de saudades:
      Ai, de nós! como os bravos que morreram
      Folgariam ditosos nesta hora!

Julho de 1861.
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