Cansaço II

"O que há em mim é sobretudo cansaço

Não disto nem daquilo,

Nem sequer de tudo ou de nada:

Cansaço assim mesmo, ele mesmo,

Cansaço." 



Gastei os últimos restos de energia a bater com os punhos na parede do entendimento, da busca, da compreensão.

O som, baixo e pesado reflecte a amargura deste silêncio

em que mil demónios de carga apertam as garras avarentas

e empurram impacientemente para a queda final

e as mãos pingam o sangue da dor que provém da minha alma.

Parece-te que exagero? entendo.

Dá-me a tua mão e caminha comigo.

Sê bem vindo ao meu Eu profundo

onde os rios enegreceram e as montanhas se aplanaram.

Onde as sementes que plantei e reguei com amor fenecem agora de sede...

Já não há nada dentro daquela carcaça que vês.

Porque eu estou cansada.

Ainda mais cansada que Pessoa.

O mundo apunhala sem dó os pontos fracos do meu corpo e eu já não consigo escudar-me.

Já não me resta mais alma para ouvir palavras duras

e deitá-las simplesmente para o monte de cinzas que reciclo de vez em quando

e transformo naquele céu vítreo e brilhante que vias no meu sorriso.

elas permanecem agora comigo, e amargam, e matam...

E o tempo não chorará a minha morte, aquele diabo miserável

nem lágrimas caem na agonia dos meus gritos

E tu, meu amor, não chores por mim.

Tornar-me-ei também eu um demónio fundido em corpo de mulher

que só quer magoar e causar tanta dor como aquela que sente

e a insanidade segue assim o seu curso

e os ecos do meu legado desvanecem-se com o tempo..

 

**O trecho inicial de Pessoa pertence ao texto original para que este faça sentido.

Género: