Cantar ao desafio

Cantar ao desafio

 
Sou de poeira, de pedra, rastejo!
Sou de poeira, de pedra, rastejo!
Quando fico envolto de terra
Nem suspiro, nem rio, ou gracejo
 
Sou a relva, as flores e os frutos!
Sou a relva, as flores e os frutos!
Cruzamentos de perpendiculares
Não me sirvam uns cantares curtos!
 
Sou a proliferação dos arbustos!
Sou a proliferação dos arbustos!
Em trevo de quatro folhas ressurjo
Dou-te um cantar sem os custos
 
Sou sabores de amoreiras!
Sou sabores de amoreiras!
Versos para o ar sem espirrar
Em encontros de cachoeiras!
 
Sinto tudo até ao astro!
Sinto tudo até ao astro!
Balanças e quase que cais
Eu balanço em água de lastro
 
Estou aqui e pouco evidente!
Estou aqui e pouco evidente!
A água p´ra poder germinar
Canto o nascer, o morrer, a semente
 
Vim do caminho p´ra te cantar!
Vim do caminho p´ra te cantar!
As flores secas da primavera
Eu nem sequer te irei odiar!
 
Do amarelo de plantas com sede!
Do amarelo de plantas com sede!
Vou voar sem me enraizar
Em cantares pescados à rede
 
Beijinho, abraço e amor!
Beijinho, abraço e amor!
Em corações de ilusões
Vieste cantar c´um senhor.
 
Em satisfações recordadas!
Em satisfações recordadas!
Chover em solar de emoções
P´ra ti tenho coças cantadas
 
Passeio o passeio da estrada!
Passeio o passeio da estrada!
Venho p´ra aqui sem direções
Mas daqui tu não levas nada
 
Tudo na vida é poesia!
Tudo na vida é poesia!
Ainda não eras nascido
E já cantares eu fazia
 
Numa terra eventual!
Numa terra eventual!
Vómito lento em lodo pastoso
Em vez do teu canto banal
 
Em pobreza magistral!
Em pobreza magistral!
Meu canto é a beleza
O teu ao ouvido faz mal!
 
Em brisas de breve futuro!
Em brisas de breve futuro!
Calafrios e suores frios
Vieste a bater contra um muro!
 
Os sacrifícios dos pais da nação!
Os sacrifícios dos pais da nação!
Nas músicas da minha vida
Ouves meus cantares em lição
 
Sem compromissos, sem esquecimentos!
Sem compromissos, sem esquecimentos!
É a vida, o mar, o ar e o luar
É um cantar, dois cantares, são quinhentos!
 
Com os amigos cantar!
Com os amigos cantar!
Enquanto lhes dou uns abraços
Tu ficas p´raí a chorar
 
Folhas de nervos enredados!
Folhas de nervos enredados!
Fantasmas de outras cidades
P´ra ti até de olhos vendados!
 
Cabelo curto ou comprido!
Cabelo curto ou comprido!
Barba grande ou aparada
O teu nem chegou ao ouvido!
 
As gretas de galho abano!
As gretas de galho abano!
Racham, partem e caem
É o fim do cair do teu pano!
 

 

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