Cantares

(A RAMIRO DE FIGUEIREDO)

A triste viuvez tua,
Creança de olhos suaves,
Lembra-me as noites sem lua,
Lembra-me os ninhos sem aves.

Tão bonita e sem amores,
Á minha mente recordas
Uma jarra sem ter flores
Um bandolim sem ter cordas.

Oh meiga rôla sem par,
Á phantasia revelas
Uma barca em pleno mar
Sem ter leme e sem ter velas.

Moreninha idolatrada
Que o loiro Amor não seduz,
És como estrella apagada
És como um astro sem luz;

És como um cofre doirado
Cheio de gemas d'Ophir,
Por tal maneira fechado
Que ninguem o possa abrir.

Oh virgem de negra coma,
Oh minha doce gazella,
És como flor sem aroma
Como moldura sem tela,

Galathea que amo tanto,
Meu amor, peccados meus,
És um altar sem ter sancto
--Um paraizo sem Deus!

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