CANTO DE PRIMAVERA

 

Eis surge a quadra flórida,
A quadra dos amores,
Vertendo almos fulgores
De seio juvenil.
Tudo revive ao hálito
Que a natureza aquece;
Tudo rejuvenesce
Á luz do ameno abril.


Os bosques odoriferos
Se cobrem de verduras:
Nos montes e planuras
Renasce a tenra flôr;
Dos perfumados zephyros
Ás musicas suaves
Se juntam das mil aves
Os canticos d'amor.


Salvè, estação esplendida,
Ó luz appetecida,
Que á terra dando vida,
A tudo dás prazer!
Minha alma em doces extasis
Festeja a tua vinda,
E se ergue á luz infinda,
Manancial do ser.


D'onde, ó calor benefico,
Derivas teu alento?
E d'onde o movimento
Que dás á creação?
Do fóco sempre vívido
Que anima a natureza
Por toda a redondeza
Da terra, e da amplidão.


Como nos campos fulgidos
Espalha essas estrellas,
Assim as flôres bellas
Nos campos terreaes:
Quão bello, ó Providencia,
É teu poder fecundo,
Enchendo o vasto mundo
D'alentos immortaes!


Debalde o immenso vortice
Retoma quanto gera:
Tudo se regenera
No perennal crisol,
E tudo canta harmonico
O Ser que, das alturas,
Aos gêlos dá verduras,
Ás sombras novo sol.


Cantae, ó aves módulas,
Cantae em côro ledo!
Murmurios do arvoredo,
Cantae a Jehovah!
Campinas aromaticas,
Erguei-lhe os mil perfumes
Das flôres em cardumes
Que a primavera dá!


Abriu-se o tabernaculo
Da terra florescente;
Todo sorri fulgente,
Todo respira amor:
Resoem n'elle os canticos
De mystica harmonia,
Dizendo noite e dia:
--Hosanna ao Creador!
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