CARIDADE
Autor: Bulhão Pato on Sunday, 13 January 2013
Á Ex.ma Sr.a Viscondessa d'Asseca
Como avesinhas implumes
Enjeitadas nos seus ninhos,
Deixa a sorte os pobresinhos,
Sem lar, sem pão, sem carinhos
De maternal coração.
Escutando os seus queixumes,
Compassiva a Providencia,
Volve os olhos á innocencia,
E em sua eterna clemencia
Da-lhes lar, ensino, e pão.
Mais vivos torna os desejos
No seio da caridade,
Que á desvalida orfandade
Vai com sincera piedade
Inundar de puro amor;
Amor, que em candidos beijos,
Suavemente procura
Dar conforto na amargura,
Aos que fez a desventura,
Orfãos no berço e na dor.
A quem busca a Providencia
Para amparar o destino,
Do que pobre e pequenino
Se encontra sem luz, sem tino,
Logo no mundo ao nascer!?
Anjos de viva clemencia,
Que onde existe o sofrimento,
Correm, voam num momento,
A dar todo o sentimento,
Que taes almas sabem ter!
São ellas mães, são esposas,
E recordando os carinhos
Que tiveram seus filhinhos,
Não podem ver pobresinhos
Sem amor, sem lar, sem pão!
No berço desfolham rosas,
Onde espinhos só havia,
E o sol de pura alegria,
Já de affectos alumia,
Dos orfãos o coração.
Salve pois, oh Caridade!
Que assim abres o teu seio,
Áquelle que sem esteio,
Á luz d'este mundo veiu
Para viver na afflicção.
Salve casta divindade!
Terna irmã da desventura,
Que os suspiros da amargura
Convertes á creatura
Em risos de gratidão!
Junho de 1856.Género: