Carlos Cavaleiro
Carlos Cavaleiro
Estou no meu segundo meio, primeiro o mar, segundo a solidão da noite.
Durante a noite posso pensar sem raciocinar e viajar sem parar… hoje, estou preso não consigo voar estou pesado.
Por vezes fico leve e descolo com facilidade. Hoje não me sinto. Quando olho não vejo o horizonte, muito menos o seu limite.
Por vezes consigo ver o que está para lá do céu, galáxias distantes, gentes que não são gente, adormeço e sonho como um menino. Hoje... nada, apenas um ser limitado e com vontade de voltar a ver animais de noite como fazia com o meu amigo Carlos.
Eu e o Carlos começamos a gostar de animais selvagens quando eramos crianças. De noite é possível observa-los, ele aproximava-se e sabia falar com eles, sabia alimenta-los.
Era a noite que me encantava, durante a noite podia ver o que não se vê de dia, ver o que a maioria das pessoas nunca viu: texugos, lontras, ginetas com pele de leopardo, raposas, furões, saca-rabos, mochos, corujas, coelhos, lebres… raras lebres de cor muito escura que só existem aqui, são maiores que as outras, mas estão em extinção.
Os animais noturnos são belos. Gostava de os ver agora, mas o Carlos está longe… iria ter dificuldade em os encontrar.
O Carlos via e percebia o que eu não conseguia ver, era intuitivo, dissolvia-se no campo como o sal se dilui na água doce quando os rios chegam ao mar. Vivia na orla da floresta e todos os dias ultrapassava a fronteira para os puder ver.
Sonhávamos acordados, vivíamos para descobrir animais e para ver um mundo desabitado.
Acabei por ficar com as memórias, mas nunca mais passei a fronteira.
10:49
20/06/2018
MS