CARTA AO LEITOR
CARTA AO LEITOR
Caro leitor, você já ouviu falar do famoso: – “Jeitinho brasileiro?” – No mundo da literatura isto funciona, e se propaga por todo o planeta. Portanto, deixa de ser exclusividade brasileira.
Ao entrar no mundo da literatura descobri muitas coisas interessantes, algumas nem tanto, outras esdrúxulas. Por exemplo, vários autores famosos de várias partes do mundo recorrem a certa “técnica” que particularmente considero imoral e antiética. Este procedimento faz qualquer um virar um escritor famoso em menos de um ano. Para isto basta ter muito dinheiro pra investir. E é o que muitos escritores famosos de hoje fazem sem o menor constrangimento. Existem no mundo todo, inclusive no Brasil, equipes de especialistas em desenvolvimento de narrativas e ilustrações escritas. O escritor só precisa escrever num bloquinho qualquer os tópicos principais do seu livro, e entregar para uma dessas equipes. Eles são especialistas que fazem seu textinho chinfrim virar um Best Seller. Cada parágrafo que o escritor escreveu, sem compromisso nenhum com a qualidade, diga-se de passagem, nas mãos desses especialistas viram 30 ou 40 páginas de texto muito bem escritas. Baseados nos tópicos que o escritor fornece, eles recriam o texto, acrescentando cenários, emoções, descrição de personagens, lugares etc. São especialistas nisso. Cobram muito caro, e por isso, o autor tem que ter muito dinheiro para contar com o trabalho desses especialistas.
Um exemplo prático. – Num determinado livro o autor quer dizer que um garoto ganhou uma bicicleta, e quando estava aprendendo a andar com ela, caiu e quebrou o braço. – Quando esse tópico chega nas mãos dos especialistas, - (eles preferem ser chamados de roteiristas) – O texto ficaria dessa forma abaixo:
- ( Johm era um garoto considerado por seus pais um pouco travesso. Ao completar 12 anos, seus país, após pensarem bastante, ponderarem sobre o comportamento do filho, resolveram de comum acordo dar uma bicicleta de presente para ele. Ainda um pouco temerosos com o que podia acontecer, foram ao centro da cidade no dia do aniversário de Johm e compraram uma bicicleta, um modelo apropriado para a sua nova idade. Combinaram com o entregador da loja de levar a bicicleta bem na hora em que os seus pais estariam reunidos em sua sala para cantar os parabéns para Johm. É claro que Johm não sabia de nada sobre isto. O que seria uma surpresa de seus pais para ele. E assim foi feito. Bem na hora de apagar as velinhas do bolo de aniversário, alguém bateu na porta da frente. Seus pais já sabiam de tudo e pediram para Johm atender a porta, pois achavam que seria um de seus amigos que havia chegado para participar da festinha dele. Então Johm foi atender a porta. Ao abrir, deparou-se com um funcionário uniformizado dizendo que tinha uma encomenda para o senhor Johm. Por sua vez, Johm muito surpreso falou: - Johm sou eu. – Disse ele ao entregador da loja. – O entregador convidou para sair e ver a sua encomenda que estava bem ali na calçada de sua casa. Ao sair Johm viu uma linda bicicleta com um pequeno cartaz dependurado que dizia: - “FELIZ ANIVERSÁRIO Johm” – Johm não se conteve de alegria, gritou, pulou, chamou os demais que estavam na sua casa para vê-la. Todos saíram para ver a bicicleta nova do Johm. O mesmo nem quis mais saber do bolo, não conseguia sair de perto da sua bicicleta nova. ) –
E seguem mais três ou quatro parágrafos descrevendo como o garoto caiu e quebrou o braço. Tudo elegantemente escrito. Mas não pelo próprio autor, e sim por uma equipe contratada para essa finalidade.
Muitos livros famosos que já fazem parte das bibliotecas, e dos mais vendidos, são produzidos assim. O escritor cria os tópicos e uma equipe desenvolve o texto completo. No Brasil muitos escritores (ricos) utilizam deste artifício. As próprias editoras oferecem aos escritores novatos os trabalhos dessas equipes de “Roteiristas.” Dando um enfoque sobre a qualidade literária e desenvolvimento do roteiro. Se o escritor novato tiver dinheiro pra gastar na produção do livro, então vai pro Domingão do Faustão, Aparece alguém na novela das oito lendo o livro, com direito a um close da capa do livro, dependendo do gênero do livro pode aparecer no programa Malhação e outros programas na TV. Também com direito e Banners em livrarias tradicionais como Livraria Cultural, Saraiva entre outras. Então se você dispõe de 200 mil reais pra gastar, você pode escrever um livro (digo tópicos) ruim, e mesmo assim tornar-se um Best Seller.
O que quero dizer com isso?
Onde está o talento? Por certo que grandes escritores do passado não contavam com este tipo de apoio. Também não quero dizer que bons livros produzidos hoje contam com esse tipo de apoio. Mas, você leitor, certamente já leu algum livro famoso que foi produzido dessa maneira, com esse tipo de apoio dos especialistas em narrativas e dissertações. Eles fazem até trabalhos para novos formandos nas universidades ricas, as famosas TCC, ou monografia obrigatória para tese de conclusão de curso.
Acredite, diversos autores brasileiros famosos usam sim esse tipo de apoio na produção de seus famosos livros. Incluindo os que mais vendem livros no Brasil. E isto não acontece somente no Brasil, mas no mundo todo.
Particularmente eu não concordo com este tipo de apoio, para mim, um livro é uma experiência do autor, na visão do autor, com a narrativa do autor. No caso desse tipo de livro escrito assim, o autor quase não participa da escrita em si. Os especialistas “roteiristas” é que fazem todo o trabalho de escrita propriamente dito, mas os créditos vão é claro, para o autor. Eu jamais concordaria em produzir um livro assim, e acho eu que o leitor merecia saber disto.
Charles Silva