CARTA SIMPLES...
Autor: IsabelMoraisRib... on Sunday, 12 January 2025
Carta Simples
Amo-te, António. Gosto de ti de uma forma que talvez nem saibas. O que sinto por ti é algo que vai além das palavras, algo que ultrapassa o tempo. Como é maravilhoso envelhecer ao teu lado, ver o passar dos anos e ainda assim, sentir como se fosse o primeiro dia em que te vi. Lembro-me de como era aconchegar as tuas costas, quando adormecias no sofá, cansado da vida e, mesmo assim, tão perfeito para mim. Esperar-te à noite, sentada na nossa cama velha de ferro, com o coração cheio de carinho por ti.
Foi o teu olhar que, logo ao primeiro encontro, me fez querer navegar por ti, descobrir cada pedaço do teu ser. Naquela época, quando te conheci, tu eras tão bonito, e, meu amor, continuas a ser. Foi amor à primeira vista, uma magia que tomou conta de mim, uma atração irresistível de uma miúda de 17 anos.
Agora, passados 40 anos de casados, e 10 meses de namoro, aqui estamos nós, meu amor, na luta da vida, que nunca foi fácil, mas que nunca nos quebrou. Houve momentos de dor e sofrimento, de necessidade, de um vazio que parecia impossível de preencher. Tomámos más decisões, fizemos escolhas erradas, mas, mesmo assim, continuámos a caminhar, de mãos dadas, enfrentando tudo, juntos. E esses momentos difíceis, aqueles que nos pareceram insuportáveis, acabaram por nos fortalecer, tornaram-nos mais unidos, mais apaixonados.
Muitas vezes, fico a observar-te em silêncio, sem que dês por isso. Estás ali, na tua calma, e eu, perdida na imensidão do meu amor por ti. És o homem que amo, o homem que desejo, que me completa de uma maneira que nem sei descrever. És um pégaso meigo, honesto, apaixonado, ciumento, possessivo, E eu sou o cavalo selvagem que, por mais que tentasses domar, nunca conseguirias. Essa nossa diferença, esse nosso contraste, é o que nos define, o que nos torna tão especiais. Somos como a tempestade que se forma, violenta, imprevisível, mas que depois acalma, deixando no ar o cheiro de algo sublime, algo único.
Gosto de beijar-te com ternura enquanto vemos um filme, como se o mundo lá fora não existisse. Talvez seja melhor fazermos amor agora, no calor do momento, já que foste apanhado pelo desejo. E, sim, gosto de irritar-te, de provocar-te, de ver-te perder a calma.
Eu sei, estamos a envelhecer, mas o nosso amor não tem fim, não se apaga, não se gasta. Onde estão as nossas memórias, os nossos sonhos esquecidos? Guardados em algum lugar, prontos para ser retomados. A nossa prioridade sempre foram os nossos filhos, lindos e perfeitos, que Deus nos deu como a maior das bênçãos.
Eles são o nosso maior tesouro, o que mais temos de valioso. Oito diamantes, cinco meninas e três rapazes, que são o nosso orgulho, nossa alegria, nossa razão de viver. Eu sei que me amas, que te reconheces nas minhas rugas, que vês o tempo refletido em mim e em ti. Na nossa luta contra o tempo, vamos envelhecer, mas sempre juntos. Seremos velhos, mas seremos amigos, cúmplices, amantes, companheiros, apaixonados. De todos os invernos que passamos, das primaveras que vivemos, dos sorrisos e lágrimas compartilhados, de todas as alegrias e tristezas, de todas as aventuras que já enfrentámos. Ainda não temos netos, eu sei, mas, tal como tu, eu gostaria de ver os nossos filhos com os seus próprios filhos. A espera será longa, talvez, mas sei que vale a pena. E, depois de tudo, meu amor, o que desejo é simplesmente ficar contigo até o fim. Morrer no teu sorriso, António, morrer no calor do teu abraço, sabendo que vivi uma vida repleta de amor, contigo ao meu lado.
Continuo aqui, com o coração cheio de ti, a lembrar de cada momento que vivemos. E, apesar de tanto tempo já ter passado, o que sinto por ti não envelheceu, não perdeu força. O nosso amor é como o vinho, que só melhora com o passar dos anos. Cada dia ao teu lado é como uma nova descoberta, um novo capítulo de uma história que nunca cansa, que nunca se esgota. Lembro-me das pequenas coisas, dos detalhes que fazem de ti quem és. A maneira como sorrimos juntos nas manhãs frias, com o café da manhã e os olhos brilhantes de cumplicidade. Ou quando as palavras são desnecessárias, pois um simples toque, uma troca de olhares, diz tudo. Em cada silêncio, em cada gesto, sinto a nossa conexão mais profunda, mais verdadeira. Não precisamos de mais nada para sermos completos, só de nós dois, juntos, em qualquer momento, em qualquer lugar.
Às vezes, paro e penso em tudo o que conquistamos, em todas as batalhas que enfrentamos lado a lado. Fomos guerreiros na nossa própria guerra, mas sempre com um ao outro, sempre com um amor que nunca se apagou, nem mesmo nas horas mais sombrias. Apesar das nossas discordâncias. Cada dificuldade nos tornou mais fortes, mais determinados, e, acima de tudo, mais apaixonados. E, agora, olhando para ti, vejo o homem que ainda me conquista, que ainda me faz perder o fôlego, como no primeiro olhar. E quando penso no futuro, vejo-nos envelhecendo com dignidade, como duas almas que já passaram por tudo e ainda têm tanto para viver. Fico a imaginar os nossos dias tranquilos, a calmaria de um amor que sobreviveu a tudo, a tempestades e bonanças.
O brilho nos teus olhos, mesmo com as marcas do tempo, continuará a ser o meu refúgio, o meu lugar seguro. Quero continuar a crescer contigo, continuar a ser a mulher que te ama, em cada fase, em cada etapa que a vida nos apresentar. Quem poderia imaginar, lá atrás, quando éramos apenas dois jovens sonhadores, que chegaríamos tão longe? Que o nosso amor se tornaria uma história sólida, construída em amor, respeito, lealdade e fé? Com os nossos lindos filhos. Eu sabia que o nosso amor era especial, mas nunca imaginei que seria eterno. E, no fundo, eu sabia. Eu sabia que, de alguma forma, sempre estaríamos juntos, até o último suspiro.
Sei que o tempo passa, e que a juventude vai se despedindo aos poucos, mas não tenho medo. O que temos é muito maior do que a efemeridade da vida. O que temos é um legado, algo que transcende o tempo e o espaço. E, quando os nossos cabelos ficarem mais brancos e as nossas mãos mais calejadas, ainda será o teu toque que me fará sorrir, o teu abraço que me dará abrigo, o teu nome que ecoará no meu coração como a mais bela melodia. E, os nossos filhos também terão as suas histórias de amor, e poderemos olhar para eles com o mesmo orgulho com que olhamos um para o outro agora. Afinal, somos os exemplos vivos de que o amor verdadeiro não se apaga, não se desfaz com o tempo. Ele amadurece, ele cresce, ele se reinventa.
E nós, meu amor, estamos juntos neste caminho que será uma eterna etapa. Por isso, prometo-te António, que mesmo quando as palavras faltarem, o meu amor por ti nunca vai se calar. Ele será a minha voz, o meu grito silencioso, a minha razão de ser. E, quando o fim chegar, não será um fim. Será apenas uma passagem, uma transformação, porque o nosso amor será sempre, em qualquer lugar, no calor do teu abraço e no brilho do teu sorriso. Até ao meu último suspiro... meu amor. Amo-te António, mas isso tu já sabes.
Hoje é o nosso aniversário -12-01-1985
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