Chamando a chuva

Misteriosamente se desprende
 
em teus beirados
 
gota-a-gota
 
soa em mim como canção
 
dolorosa
 
perfumada de aromas
 
matinais
 
 
E das tuas pálidas nuvens
 
regas de mansinho
 
meu sossego vagabundo
 
aconchegado no fundo
 
onde o céu dorme gemendo
 
de vida
 
até a alma se debruçar
 
num sono profundo
 
 
Assim  aprendi o segredo
 
no roçar cantado da chuva
 
assim deixei meu tédio
 
num aglomerado de solidões
 
esquecidas
 
 
Consumi todas as ventanias
 
que escancararam
 
o eco surpreso no silêncio
 
Pedi,
 
Parti
 
Amei,
 
Confessei
 
Abandonei
 
Reflecti
 
a ter saudade sem tradução
 
nas palavras
 
chamando a chuva
 
que perfuma a Terra
 
assaltando à pressa
 
o que resta da vida
 
esperando somente… um desejo de absolvição
 
num acto derradeiro de reconciliação
 
FC
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