CIDADES
Que cidades! É um povo para o qual foram montados Apalaches e Líbanos de
sonho! Chalés de cristal e madeira deslizam sobre trilhos e polias invisíveis.
Crateras ancestrais circundadas de colossos e palmeiras de cobre rugem
melodiosamente dentro dos fogos. As festas do amor badalam nos canais
suspensos atrás dos chalés. Matilhas de sinos gritam nas gargantas.
Associações de cantores gigantes chegam em trajes e adereços cintilantes
como a luz nos cimos. Sobre as plataformas, em meio a precipícios, os
Rolands buzinam sua bravura. Sobre as passarelas do abismo e os tetos dos
albergues, o arder do céu hasteia os mastros. O colapso das apoteoses
concentra os campos das alturas onde centaurinas seráficas evoluem entre as
avalanches. Acima do nível das mais altas cristas, um mar atormentado pelo
eterno nascimento de Vênus, repleto de frotas orfeônicas e do murmúrio de
pérolas e conchas preciosas, — às vezes o mar se escurece com brilhos
mortais. Nas encostas, safras de flores imensas bramem como nossas armas e
taças. Cortejo de Mabs em robes russos, opalinas, trepam nas ravinas. E lá em
cima, as patas nas sarças e cascatas, cervos sugam os seios de Diana. bacantes
de subúrbio soluçam e a lua queima e uiva. Vênus penetra nas cavernas de
ferreiros e eremitas. Torres de sinos cantam as idéias das pessoas. A música
desconhecida escapa dos castelos de osso. Todas as lendas evoluem e élans
invadem os burgos. O paraíso de tempestades despedaça. Selvagens dançam
sem cessar a festa da noite. E, uma hora, desci na agitação de um bulevar em
Bagdá onde companhias cantaram a alegria do trabalho novo, sob uma brisa
espessa, circulando sem poder iludir os fantasmas fabulosos dos montes, onde
se devia reencontrar.
Que braços bons, que hora adorável vão me devolver essa religião de onde
vêm meus sonos e meus movimentos mais sutis?