Companhia de Mim Próprio
Quero estar sozinho!
Por favor, deixem-me estar sozinho...
Mais sozinho do que o que já sou!
Deixem o isolamento comer-me vivo,
Encolhido com os meus desalentos,
Retirado da mundana hipocrisia!
Não consigo suportar mais a convivência,
Nem posso permitir-me ter mais conivência,
Com aqueles que me querem por conveniência.
Não! Não é isto que realmente anseio!
Sou mentiroso e não sei bem o que quero,
Não consigo expor em frases o que sinto...
Palavras não há que sejam certas,
Todas as sílabas jamais balbuciadas
Pecam na descrição dos reais sentimentos.
Sei que quero ser eu, com a tristeza dos poetas,
Mas sem a dor angustiante do ser-se triste.
Mas será possível esta utópica conciliação?
Ai as dicotomias da minha vida!
O desejar algo que se não quer
E o querer algo que não se deseja!
Gostava de me sentir alegre e satisfeito
Mas sinto nojo do histerismo eufórico,
Da fútil alegria por demais evidente...
Nos dias em que me consigo extrovertir,
Estranho-me a mim mesmo, acho-me falso.
Sinto dessa alegria apenas uma vil repulsa...
Eu quero ser alegre sem mostrar sê-lo,
Desejo a melancolia sem a mágoa do pesar,
Quero numa alegria triste poder durar!
O que realmente quero, percebo-o agora,
É que a melancolia me preencha o vazio
E possa dar sentido à minha existência,
Mas percebo também que é algo irreconciliável,
Que a tristeza não preenche, só nos dilacera.
E isso, infelizmente, só me pode deixar triste!