Complexo de Caim

Estamos na era da recompensa, recebendo agrados por nada. O hedonismo como ordem é a nova perspectiva moderna. Estamos indiferentes, uma desordem generalizada. Afirmo sem receio que nossa sociedade venera o thelemismo: façamos o que queremos e o todo é lei. Após a ruptura com a moral e a metafísica, nos sentimos deuses da própria história. Talvez sejamos, mas temos algo mais intrínseco: o complexo de Caim. A inveja é o fulcro motriz da natureza humana; temos o objeto desejado, mas o objeto alheio é melhor do que o já apossado. Este pecado capital bebe do seio egoico, mas nossa mãe, isto é o capitalismo, incentiva tal egocentrismo. E com isso, mais sede do outro sentimos. Se do princípio de Crowley é subjacente o mundo, a inveja precede a vontade. Pergunto-me se também no ventre das guerras e das violações está o filho na qual partamos; a prole a qual me refiro é a sociedade do Eu. Nada mais resume a história do que o progresso do Eu, cada tribo, mestre ou rei só prolongou seu próprio júbilo. O que é esse arrastamento do poder se não o Eu-eterno? A fome da perenidade alimentou desde o princípio os sapiens. Ser enterrado é o maior medo, que da espinha dorsal contorce a cada ser humano vivo. 

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