CONDEIXA-A-NOVA - FESTIVIDADE DE SANTA CRISTINA

CONDEIXA-A-NOVA  - FESTIVIDADE DE SANTA CRISTINA

 

No dia 24 de Julho, Condeixa-a-Nova e o seu Concelho, vestiu-se de fato novo, para festejar aquela que é a sua Padroeira – Santa Cristina-, uma jovem Mártir Italiana. Afirma-se que a presença dos Romanos neste território influenciou para que mais tarde fosse a orago da Igreja Matriz.

Embora não sejam abundantes as informações desta Santa, há que respeitar a tradição cristã, do Povo, que é soberano. Condeixa-a-Nova, nas suas gentes, também não se tem preocupado em ter na sua cultura local documentação ou obras sobre Santa Cristina. Apenas a Imagem Lindíssima de Santa Cristina, que embeleza física e espiritualmente os féis da populosa Comunidade de Condeixa.

A Igreja Católica, através dos tempos, tem sido a entidade que enaltece as virtudes que renascem desta Santa: fé, força, compromisso, carácter, ética, princípios, fortaleza…

O dia da sua Festividade apareceu cinzentão, mas quente. Já nos dias que o antecederam, não faltaram folguedos, tudo a extravasar, altifalantes com grandes potências, colunas de alto som, barulho e mais barulho, música famosa, tasquinhas, tascas, petiscos regionais com fregueses, enquanto as lojas do artesanato estavam quase vazias. Uma artesã, professora, diz-me: “fiz umas lindas imagens de Santa Cristina e poucas se venderam, acharam caras, mas não me pagavam um terço das horas que dediquei a construí-las.”

Para muitos, o feriado municipal vinha a propósito, mais uma ponte para folgar. Neste País não faltam essas pontes e autoestradas, mas escasseiam aeroportos e itinerários de metro, entre tantas outras vias…. De qualquer forma, sempre é melhor fazer pontes do que muros…

Lá fora muito ruído, com a inclusão de discursos de circunstância, na Casa de Saúde Rainha Santa Isabel das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus, e que também tem uma Unidade de Pessoas Assistidas com o nome de Santa Cristina: silêncio, afectividade, hospitalidade, fé, dedicação, forças de que os utentes tanto beneficiam. Para nos ajudar ainda temos a Imagem de Santa Cristina, padroeira desta Unidade, de moleiros e dos terapeutas, sempre atenta às nossas necessidades físicas e psicológicas. Verifico aqui, nas pessoas que nos tratam, um permanente contributo para a qualidade da nossa vida, e, assim sendo, também são felizes.

No nosso exterior, as duas faces da Festa, uma mistura pagã, popular, folclórica e religiosa (Missa e Procissão), como é habitual nas nossas comunidades, e de forma geral até se conjuga muito bem. É uma riqueza diversificada, com vários sentimentos, emoções e direcções.

No dia feriado, sem foguetório, o Celebrante da Eucaristia esclarece-nos que muitos conceitos filosóficos tentam explicar o divino, mas há apenas uma palavra-chave – Misericórdia: “Mostrai-nos Senhor, a vossa misericórdia e dai-nos a vossa salvação.” Temo-la na nossa frente, ao nosso lado, quando respeitamos os Direitos Humanos, quando aceitamos a Pessoa Humana, com toda a dignidade. “Quem fizer a vontade do meu Pai, esse é minha Mãe, meu irmão, “ensina-nos Jesus Cristo. Não devemos ficar imóveis e indiferentes.

Os familiares de uma pessoa assistida ofertam a todos os utentes da Unidade de Santa Cristina um bolo de aniversário de homenagem ao dia da sua padroeira.

Aqui, no dia seguinte, dia 25 de Julho, há uma Eucaristia onde alguns elementos da unidade de Santa Cristina colaboraram em Leituras e no Grupo Coral, com melodias diversificadas.

Junto ao altar, vasos de barro de onde brotaram rosas, ali colocadas com mãos amigas de artes florais. Assim o celebrante deu início à Eucarística, assinalando a simplicidade e empenho como preparam as festividades do dia. Recorreu ao Evangelho do dia de Santiago, apelando para que não fiquemos na mera fotografia do ritual, à semelhança de alguns projetos sociopolíticos, mas sim num estado de Ser. A Fé em Deus não é tradicional, nem folclórica, nem passageira. É feita da multiplicação de graças dos cristãos, servindo e não para se servir.                                                                                                                                                                                                              Sob o tema “Santa Cristina, forte na Fé, perante as atribulações e dificuldades da vida”, cantou-se, sob a direção da Irmã Maria da Glória, “caminhando Jesus junto ao Mar da Galileia, viu dois irmãos, Tiago e João, a consertar as redes. Jesus chamou-os, Jesus chamou-os; e eles, deixando tudo seguiram Jesus.” O Refrão significativo: “os que semeiam em lágrimas recolhem com alegria.”

Na Comunhão: “Beberam o cálice do Senhor e tornaram-se amigos do Deus”, para no final todos cantarmos: “mostra-me, Senhor, /Teus caminhos. /Para que eu queira fazer/Só o que for a Tua vontade.

A tarde recreativa decorreu na “Arca de Noé”, o Auditório de São Bento Menni. As Pessoas Assistidas de Santa Cristina, onde participei, representaram numa coregrafia a letra do fado de Mariza, “O Melhor de Mim,” está para vir. Também actuaram os grupos musicais “Rosas sobre Rodas” e as “Joaninhas”.

Foi lido pelos seus autores dois textos, alusivos à efeméride da invocação da Jovem convertida ao Cristianismo, que por essa causa tem a Palma do Martírio.

Embora seja exaltado o trabalho de todas as funcionárias, há a salientar, no caso concreto da Unidade de Santa Cristina, a D. Isabel Marinho Fernandes.

Num dia festivo, vivido, não faltou na mesa gastronómica a sopa setubalense, o bacalhau espiritual à moda fundanense, toucinho do céu à bismulense, arroz doce e rissóis à moda de Hermínia Alves Nogueira de Aldeia de Joanes (Fundão.)

Para alicerçar uma profícua e continuada união, há a partilha do almoço com os funcionários e colaboradores da Unidade de Santa Cristina, das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Um belo e significativo exemplo de unidade na diversidade.

Uma Pessoa Assistida de Santa Cristina afirma e repete muito feliz: “o dia foi muito bom, bem passado.”

Terminou-se a festividade de Santa Cristina, com uma pequena oração, repleta de significado, escrita por uma pessoa doente: “Senhora, Santa Cristina, reconstrói azenhas derrubadas, moinhos desventrados, desencontrados, para continuaram a moer a farinha do ciclo do Pão…”

Numa retrospetiva e numa análise, nunca tiveram tanto sentido as palavras de Gandhi, líder espiritual, quando escreveu: “O FUTURO, dependerá daquilo que fizermos no presente.”

Que Santa Cristina continue a olhar por nós! Bem o precisamos…

 

 

António Alves Fernandes

Condeixa-a-Nova

26 de Julho de 2018

 

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