A CRISE VERDE
A CRISE VERDE
Encostados à janela da sala de visitas, avistamos o verde das oliveiras, das laranjeiras e da alfazema com espigas com a maturação indicativa da cor roxa.
Na televisão a decorrer o jogo para o Campeonato do Mundo de Futebol, entre as selecções da Costa Rica e a Sérvia, sem som, para não nos perturbar: o país e o mundo já estão cheios de ruídos.
Conversa-se amenamente, relembra-se a história dos nossos antepassados, as suas origens, as virtudes e defeitos entre membros da mesma Família de sangue. A Natália e o António Valente vêm propositadamente do Barreiro para dar ânimo ao seu familiar hospitalizado.
Trazem uma encomenda, um Livro - “As Nove Mulheres Magníficas“, as Mulheres que ajudaram a construir Portugal -, da autoria de Helena Sacadura Cabral. A dedicatória tem muita graça: “sabendo da tua estima por mulheres, aqui tens mais nove para a tua colecção, com amizade.” Agradeço a gentilíssima oferta.
No canal dois, uma reportagem sobre a recuperação de habitações levada a efeito pela Cáritas de Coimbra, no primeiro aniversário da tragédia humana e ecológica - os grandes incêndios que avassalaram os concelhos de Pedrógão, Castanheira de Pêra, Figueiró dos Vinhos. Vidas humanas perdidas ou destroçadas, a Mãe natureza ferida cujas cicatrizes precisarão de muitos anos a suturar. O Verde dos campos deu lugar ao negrume da paisagem, o Verde foi devorado pelo fogo, mas a esperança daquela cor deve ressurgir daquelas cinzas, com a ajuda da cor branca da paz, com a determinação e vontade de Homens e Mulheres.
A única fatalidade são as notícias sobre o Sporting Clube de Portugal. Nestas últimas semanas surgiram mil entrevistas, conferências sobre conferências sobre conferências, comentários sobre comentários sobre comentários, comissões sobre comissões sobre comissões, estatutos sobre estatutos sobre estatutos. É um regabofe este circo nacional. São tantas as leis na corda bamba que, não tarda muito, todos os portugueses são doutorados em Direito Desportivo. Cansado estou eu desta telenovela permanente, sempre com os mesmos artistas medíocres e um ou outro Judas sem consciência para se pendurar numa oliveira.
Com tantos problemas na cor Verde, lembro-me do Vitória de Setúbal. Lá tem as suas maleitas, mas felizmente as riscas verdes e brancas ainda estão bem posicionadas na vertical, clube de um Povo e de uma Região. Não tem condes, nem viscondes, nem elites, nem bem pensância.
Neste PREC dos leões, neste Combate de baixos Titãs, o Sporting é o principal derrotado, ganhe quem ganhar o poder. O nosso amigo Garrido do Núcleo Sportinguista do Fundão, sportinguista puro, calmo e esclarecido, já viu o filme: o seu clube tem de mudar as agulhas da Direcção. No próximo dia 23 de Junho, na Assembleia Geral, não pode ficar em casa (“só eu sei porque não fico em casa”) e tudo fará para ir votar. Espera-se que, no final, o futebol volte às quatro linhas.
António Alves Fernandes
Aldeia de Joanes
Junho/2018