Das almas perfumadas

Uma das características diferenciadoras de cada ser humano é a maior ou menor capacidade expositiva dos seus argumentos racionais e emotivos face àquilo que nos rodeia. Um escritor inventa um mundo, tal como alguém que escreveu em nome de Deus a história da humanidade. Em cada livro há um mundo a descobrir, um universo que apetece absorver ou não. Dependendo da forma como as coisas são descritas. Há universos cujo enredo está tão bem descrito que nos apetece desbravar como quem desbrava uma selva. É enriquecedor. Mas há outros universos que não apetece mesmo penetrar porque são tão insensíveis às causas humanas que dá logo vontade de bater em retirada. 
Há livros que apetece ler e reler, tal como há pessoas que por tudo o que nos dão na sua passagem por nós, apetece ver e rever e ver e rever. São pessoas que vêm perfumadas com aromas poéticos, com absolutamente nenhuma pose, a não ser a da existência pura e dura. São pessoas cuja voz soa a melodias raras que se intrometem no nosso pensar sem ser preciso pedir licença, porque não precisam de o fazer, são pessoas que transformam para sempre as nossas vidas.  
Viver é um pouco isso, ficar à espreita e aguardar com alguma inquietude aquilo que nos vai ser trazido de bandeja pelas pessoas que passam por nós. 
Depois podemos ter várias atitudes, ou perfumamo-nos com o aroma das pessoas de almas perfumadas, ou por medo, deixamos que o aroma nos passe ao lado e toda a nossa riqueza enfraquece. 
A riqueza afere-se pelo maior ou menor grau de humanidade e de empatia para com as pessoas, bem como pela maior ou menor capacidade de transmitir conhecimento. Os bens materiais definitivamente não definem a pessoa, nem é através desses bens que as pessoas se podem realizar. É verdadeiramente rico quem consegue absorver o máximo de conhecimento e transmiti-lo de forma inteligível. É pobre quem pensa que o dinheiro lhe poderá dar algum poder. Há pessoas que estão tão concentradas em adquirir bens materiais que deixam que a verdadeira riqueza lhes passe ao lado. Toda a gente tem uma história a contar e uma história a receber de bandeja. Esse devia ser o princípio regedor da sociedade, a troca honesta de histórias entre almas sempre perfumadas pelo espírito da poesia e dos afetos.
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