Datas do tempo

 

 

Datas do tempo

 

Tenho uma dívida com a natureza.

Os dias são as parcelas.

O número de parcelamentos eu não sei,

Sei que os valores são medidos em momentos.

Momentos acordados e sonhados.

 

Acordado, ando vivendo em ilusões,

Suportando a vida,

Com medo da última parcela.

Sentindo, arrancado do bico do seio.

 

Dormindo, vivo sonhando. Desnudo-me.

Tentando não acordar

Por ter que vestir-me outra vez.

Quero viver,

Viver sonhando,

Sonhos egoístas, onde tudo é meu.

Neles não existe tempo e nem parcelas a se preocupar.

São paisagens, prazeres,

Como os seios que goteja na boca.

 

Vivendo, dormindo, seria melhor.

Viveria de delírios e não de ilusões.

Viveria de amor delirante, verdadeiro,

E não das minhas mentiras e de meus companheiros.

 

Nos sonhos o vazio não se manifesta,

A saudade não existe, todos estão ali.

O sofrimento é curado com paisagens.

Imagens, que são todas minhas e de mais ninguém.

Neles o tempo não serve como cura.

 

Um dia sei que vou dormir,

Saldar minha divida,

Como todos aqueles que já vi saldar.

Será triste, uma pena,

Não viverei mais sonhando, delirando.

Não terei mais aquelas paisagens, minhas imagens,

Meus delírios de amor.

Restará apenas meu registro de passagem.

As datas do tempo,

O desfazer que não pode ser desfeito.

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