*DEBAIXO D'UMA JANELLA*
A Batalha Reis
FAUSTO E MEPHISTOPHELES
FAUSTO
Nas noutes brancas de lua
É que se abrem as janellas!
Vem vêr meus olhos escuros
A sementeira d'estrellas!
Quem me dera a mim que fosse
Para te poder fallar,
O teu peito uma janella
E o meu amor o luar!
Uma voz (_cantando dentro_)
As estrellas mais brilhantes,
Entre as outras as primeiras,
São os prantos de Maria
E o suor das Oliveiras.
MEPHISTOPHELES (_cantando n'uma guitarra_)
O nosso bom arcebispo
Perdeu a sobrepeliz,
Uma vez em casa de...
São cousas que o povo diz.
FAUSTO
Eu era um rei poderoso,
Sem legiões, nem castellos,
Tendo a corôa de teus braços,
E o manto de teus cabellos!
Meu amor, são os teus olhos,
Mais negros que a noute escura,
Dous trigueiros assassinos
Cavando-me a sepultura!
A voz (_cantando_)
Os rubins são umas pedras
Feitas de pingos de luz,
Foram as gotas de sangue
Dos roxos pés de Jesus.
MEPHISTOPHELES
Escrevi o meu amor
No muro do coração,
N'uma noute de relento,
Com teus olhos de carvão!
FAUSTO
Por que estaes, soes, encobertos,
Ó tristes olhos amenos!
Receias ó minha esquiva!
Não te crestem os serenos?
A voz (_cantando já ao longe_)
Quando subiu ao Ceu Christo
Depois da paixão da Cruz,
Subiu por vós, ó estrellas!
Que sois escadas de luz!
MEPHISTOPHELES
Eu deixarei, ó trigueira,
D'amar tuas tranças negras,
Quando mandarem os sapos
Sonetos ás toutinegras.
FAUSTO
Fecharam-se as violetas
E dormem as andorinhas;
A mim ha muito que o somno
Desertou das noutes minhas!
Ó bem amada das almas,
Tão avara de carinhos!
Acaso nos teus canteiros
Sómente crescem espinhos!
(_affastam-se e vão de braço dado_,)
MEPHISTOPHELES (_ao longe_)
O nosso bom arcebispo
Perdeu a sobrepeliz
Uma vez em casa de...
São cousas que o povo diz!