DECLINIO
“DECLÍNIO”
(Parei! Lentamente levantou a cabeça e murmurou; ela morreu, deixa-me estar, que esta vida não é tua…..)
O tempo consumiu o filtro da inocência,
Num cenário de coloridas amarguras,
Roído na turbulência da precoce idade.
A vida desarrumou a sua existência.
Ironiza, diz-se modelo de fotos e pinturas,
Triste e ingente vive da mendicidade.
(Olhei para a tralha! Atabalhoadamente justificou; foi o vício que arrastou a minha casa para a rua…..)
Alisou a beata entre risos e charadas.
Parece fumar o que resta das exuberâncias
De épocas ébrias, distantes e sombrias.
Entre dentes murmura frases resignadas,
Injeta a mentira, para apaziguar as ânsias
De um passado, recheado de mordomias.
(Mestrado em Artes e Belas Artes! Faz de estátua de carne, sussurra tormento, obtendo o que a caridade pactua….)
O silêncio parece fluir no fumo das baforadas,
Cenário ignoto, distorcido por substâncias.
Na esteira do vício os ruídos são melodias.
Árias compostas por partituras esconjuradas.
Numa recaída vitimada pelas circunstâncias,
Envolto no luto, esvazia as horas e os dias.
(Amar era um verbo singular, que todas as noites ele escreve por baixo do rosto que mecanicamente desenhou à luz da Lua…..)
João Murty
11-11-2016
(Foto: Luís Leitão)
Comentários
Frederico De Castro
Dom, 04/12/2016 - 11:52
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Que belo texto caro poeta
Que belo texto caro poeta
envolto num luto que esvazia as horas e os dias
Abraço fraterno
FC