Derradeira jornada
Autor: Frederico De Castro on Friday, 25 September 2015
De uma vez por todas
eu sei
que não pude desenhar-te
como o projecto final
A consciência perdeu-se
em cada acto meu
findo o esboço onde
apuramos os beijos
que ficaram inconscientemente
despidos nos lençóis onde
nos embrenhamos tentadoramente
Tenho hoje só pra mim
esse sabor a pleno vazio
no vazio da vida
Por mais que tateie
encontro somente
um naipe de palavras jogadas
neste poema onde entretenho
os meus silêncios
prestes a fugir numa
integral bebedeira
até à última derradeira jornada
gratinando penosa nossos
suplícios encaixados nesta poesia
que se esvai no tempo com veemência
e tão indisciplinada
Demolimos mais que um sonho
executámos dons de vida
pra com vida
nos intoxicarmos até
à saturação do tempo
fingindo-me eu a tua noite
e tu
meu sonho impossível
guardando
a plena medida das minhas
ânsias e desejos
sem mais indisfarçáveis contrapartidas
Nada mais me falta
porque encontrei todo
o vazio de nós
preenchi-o com torrentes
de poesia franca
redigida, fiel
com pedaços intemporais
coagidos pelo som de
muitos silêncios tão fraternais
Fui mero viajante
em todos os descaminhos
deste mundo
Lambi todas a feridas
mal cicatrizadas
Afoguei-me em lágrimas
depois daquela enxurrada
de gargalhadas correndo
pelas tuas encostas serenas
em delírios guardados
no invólucro das nossas paixões
Deixa pois o negrume de mais uma
noite se despir na manhã
e nós erguendo-nos arrojados
à vida
jamais sucumbamos engolindo
silêncios…cicatrizando e convivendo
entre nossas fantasias que se
apressam em orações
a este amor se oferecendo
que arde em fogo
e inquietações tecendo
Que aquele dia exista
completo
neste meu corpo que
em dores doendo
ainda assim te empresto
Cicatriza-me a vida nem que seja
com palavras invulneráveis
flageladas pela brevidade do tempo
onde expões nossos pactos
resolutos condecorando toda
a fiel hora fugidia com lealdade
Ruma ao traçado deste destino
e te darei meus aromas atapetados
na manhã que perfuma cada
eco matutino
Possibilita-me querer-te
mesmo que anónimo
peregrinando por ti…legítimo
Autentica-me as páginas
onde tatuei célere
o mesmo poema afável
materializado num ser indubitável
onde seduzidos nos embebedamos
em gracejos fecundos descomunais
FC
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