DESEJO

 

Oh! quem nos teus braços podéra ditoso
          No mundo viver,
Do mundo esquecido no languido goso
          D'infindo prazer.


Sentir os teus olhos serenos, em calma,
          Fallando d'além,
D'além! d'uma vida que sonha minha alma
          Que a terra não tem.


Eu dera este mundo, com tudo o que encerra,
          Por tal galardão:
Thesouros, e glorias, os thronos da terra,
          Que valem, que são?


A sêde que eu tenho não morre apagada
          Com tal aridez:
Podésse eu ganhal-os, e iria seu nada
          Depôr a teus pés.


E só desejando mais doce victoria,
          Dizer-te: eis-aqui
Meu sceptro e sciencia, thesouros e gloria:
          Ganhei-os por ti.


A vida, essa mesma daria contente,
          Sem pena, sem dôr,
Se um dia embalasses, um dia sómente,
          Meu sonho d'amor.


Isenta do laço que ao mundo nos prende,
          A vida que val?
A vida é só vida se o amor n'ella accende
          Seu doce fanal.


Aos mundos que eu sonho podésse eu comtigo,
          Voando, subir;
Depois, que importava? depois no jazigo
          Sorrira ao cahir.
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