Desejo de brancura

Desejo de brancura

Poderoso és tu meus dedos numa folha branca,
impávida colosso, me pedindo pra manchá-la.
Minha folha branca, tu me tentas sempre atenta,
queres desajustar-me novamente, saber que passa
em minha alma pálida.
Nunca resisti aos teus chamados, teus recados,
acenos, que na realidade são mordaças que
impusestes para convergir a ti
aquilo que não é de ninguém, nem meu.
Prisioneiro sou de teu brancume,
nas tuas plumas sou acolhido.
Feitiço não é, porque me fazes poderoso
diante do nada, do tudo que
posso nesta página estabelecer.
Haverá sempre pra mim uma página em branco,
um destino a construir no vazio.
Ao manchá-la com meus rogos e arrogos,
viras as costas e me ofereces o verso,
mais branco que a frente e me desafias novamente.
Saio de mim e me desfaço na tua brancura,
como tinta que ao vento jogo sem desenho,
sem desejo, como lamina que corta no escuro,
onde vejo tuas páginas brancas somente,
sem possibilidade de renunciar esta
brancura insistente.

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