DESENGANO
Autor: Soares de Passos on Saturday, 8 December 2012
Vejo-a ainda! resurge a meus olhos Como em tempos ditosos surgia, E, qual anjo de casta poesia, Desce ás vezes n'um sonho d'amor; Vejo-a ainda nos céos e na terra, Nos encantos e risos da aurora, E, se o dia nas ondas descora, Das estrellas no meigo fulgor. Era a luz que brilhava em minha alma, Era o astro que em sombras luzira, Era o fogo sagrado que a lyra Ás doçuras d'amor acordou... Tudo é findo; debalde nas trevas Busco ainda seu facho luzente: Foi apenas um astro cadente, Meteóro fugaz que passou. Pobre seio que ardente pulsaste Embalado por falsas venturas, O fanal que na terra procuras Sobre a terra jámais acharás. Não ha seio que entenda no mundo Esse ardor de teus vagos anhelos; Não ha luz que em seus raios mais bellos Não te esconda uma sombra fallaz. Que te resta? um futuro vasio D'illusões que nutriu a esperança, E um passado de triste lembrança Como é triste a verdade sem véo... Olvidar! olvidar! que ao presente, Ai! só cabe o repouso do olvido. Olvidar! e que em gêlo sumido Seja o fogo que em chammas ardeu! Sonho bello que esta alma illudiste, Chamma ardente nos céos ateada, Vôa, vôa á celeste morada! Lá nasceste, do mundo não és. E tu, lyra de languidas cordas Que d'amor suspiraste em desleixo, Vae, oh, vae! em silencio te deixo... Vae, oh, vae para sempre talvez!
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