Desfazer-me da solidão

E eu nem sei mais, o que dizer para a solidão.

Se lhe digo sim ou se lhe digo não.

Porque de vez em quando, quando invade a tristeza no coração

Eu fico sem pés no chão.

Agarro-me às paredes, perco-me em vão.

Agarro-me ao que não existe e escuto a nossa canção.

Preenchida com saudade e solidão.

 

E a melodia vai-se desfazendo aos poucos.

Por desfechos e devaneios de pássaros roucos.

E pelo meio de notas e acertos tudo se perde.

Tudo se torna tão confuso, e tão perene.

A nossa música já nem é a nossa música.

E apenas a minha solidão sabendo que não estás aqui.

 

É complicado, digo de peito aberto.

Ainda com marcas de um dia teres esta perto.

E difícil olhar para a casa onde repousaste e saber que não vais mais repousar.

Ou difícil é olhar para a cama onde te cansaste e saber que não vais mais, nem sequer me acariciar.

É difícil olhar para a cadeira onde te sentaste, e nada ver a não ser a marca que deixaste.

Essa marca que em mim trago, ela é tua mas já nem a vês.

És esse homem que vive por aí, sem mas nem talvez.

Eu continuo a ser a mulher perdida, preenchida de porquês.

Tudo o que não gostavas, eu já não gosto.

Tudo o que amavas, eu já não suporto.

Mas que posso eu fazer?

Habituar-me a não te ter.

Pois que remédio tenho eu de tomar.

Para ver se acalmo as veias que tendem a sangrar.

Noites e dias tão escuro sem sessar.

Hoje eu vou parar.

Lá naquele pequenobar.

Onde na insónia me costumávas levar.

Vou-te procurar mesmo sabendo que não estárás por lá.

Vou beber dessa dor que deixaste.

Embedar-me na solidão em que me abandonaste.

Hoje eu vou tentar fesfazer-me de ti.

Porque viver assim já não dá para mim.

 

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