A Despedida
Cruzem-me as mãos.
Quero posar para a morte.
Mas não vos direi “mais luz”
Nem haverá êxtases, eu vos juro.
A paisagem infiel, lenta, confusa,
Será a cinza sem cor, sem cor.
Apenas a cinza sem cor.
Mas antes que venha o silêncio,
Trazei-me o intérprete.
Porque há o nada e o sempre.
Mas trazei-me o intérprete
Antes que venha o silêncio,
E antes que eu vá, como irei,
Sem vos contar o fim.’’ (Antônio P. de Medeiros)
O garoto bizarro mergulha no rio negro do pensamento, cada vez mais fundo aos seres abissais. Criaturas inefáveis aos humanos o chamam, já não há como voltar a superfície. Assombrações de seres ressentidos querem sua companhia. Chegou a deletéria hora de se despedir. Seu lugar não era na terra, se sentia deslocado dos demais; acreditava ser inferior por não se enquadrar. O barqueiro do Aqueronte finalmente o desalma. Já na barca, ele zonzo acorda sem entender nada. O clima macabro rasga a espinha, todavia, com medo, ele reconhece que lá é seu lugar. Sofrimento, angústia, tormento são sentimentos altamente partilhados na vida; no local onde está, não seria diferente. Formas essenciais da negatividade será tudo que existirá eternamente, assim como as vozes lúgubres, formando um coral horrível em seus tímpanos.