DEWEY, John - Filósofos Modernos e Contemporâneos

DEWEY, JOHN

1859 – 1952

Não solucionamos problemas filosóficos. Nós os superamos... As experiências científicas, como as realizadas por Benjamim Franklin com a Eletricidade, na década de 1740, ajudam-nos a ter o efetivo controle sobre o Mundo. A Filosofia deveria fazer o mesmo.

 

Adendo: Pragmatismo e Utilitarismo.

Notas Biográficas.

JOHN DEWEY estudou na universidade de Vermont, EUA, e ali lecionou por três anos após se graduar e antes de realizar seus estudos complementares nas disciplinas de Psicologia e Filosofia.

Posteriormente lecionou em outras universidades importantes e foi o autor de vários estudos sobre um amplo leque de temas, tais como: a educação, a democracia, a psicologia e a arte. 

Além de acadêmico, também foi o fundador da célebre instituição educacional chamada de “University of Chicago Laboratory Schools”, onde colocou em prática as suas ideias sobre o processo de educação que foi batizado de “aprender fazendo”.

Instituição, aliás, que ainda hoje goza de muito prestigio, graças aos vários campos de interesse de seu fundador, bem como, à sua hábil oratória, que expandiram a sua importância para além do meio escolar e consolidaram a sua influência no seio da sociedade estadunidense.

Morto aos 92 anos de idade, após uma vida repleta de atividades, não se pode dizer que DEWEY tenha deixado um legado intelectual que prime pela originalidade e profundidade, contudo, ele é considerado um pensador de escol e que merece ser conhecido em razão de seu trabalho com o Pragmatismo e com o Utilitarismo, sobre os quais teceremos breves comentários no final deste Ensaio.

As Ideias de DEWEY

JOHN DEWEY foi um dos fundadores do Pragmatismo, juntamente com CHARLES SANDERS PEIRCE (1839–1914 EUA) no final do século XIX. E durante toda a sua vida foi um ardoroso defensor das supostas virtudes de tal maneira de pensar.

Coerente com as suas ideias, ele adotou integralmente a concepção de que o propósito, o objetivo e a finalidade da Filosofia seria apenas a de ajudar o homem a pensar e a agir de modo mais eficaz e capaz de oferecer-lhe melhores resultados práticos.

Muito distante, como se vê, da perspectiva de Filósofos tradicionais, para quem compete à Filosofia, enquanto “pensamento superior”, investigar as grandes questões da vida, do Universo e do próprio homem.

Mas essas questões “existenciais” nunca lhe preocuparam, como, aliás, é comum entre seus pares estadunidenses.

Sendo assim, segundo o cânone pragmático, não se deve perguntar: “é dessa forma que as Coisas são?”. Deve-se, sim, indagar: “quais são as implicações, as consequências práticas se adotarmos tal ponto de vista?”.

Pois, os “Problemas Filosóficos (ie, os assuntos que são estudados pela Filosofia)” Não São, ou não deveriam ser questões abstratas e distantes do cotidiano das pessoas.

Afinal, os Problemas Filosóficossó existem porque os homens são Seres em busca de algum sentido, de alguma direção no Mundo físico, material, lutando para decidir como pensar e agir da melhor forma possível.

A Filosofia, segundo ele, começaria a partir das esperanças, das aspirações que os humanos têm em seus cotidianos e, também, quando surgem problemas no curso da vida. Sendo assim, ela deveria ser um meio de encontrar respostas práticas para ambas as situações.

Filosofar não seria agir como um mero espectador distante do Mundo prático, físico. Ou adotar o estereótipo de Filósofo contemplativo, absorto em suas reflexões e totalmente desapegado das coisas mundanas.

Ao contrário, filosofar seria engajar-se ativamente nas nuances da vida cotidiana. Por isso, ele propôs que:

1 – Os problemas surgem porque tentamos apreender, captar, o Sentido (o que é, por que existe?) dos desafios de se viver em um Mundo que está em constante transformação.

2 – Ou, então, porque buscamos compreender as tradições culturais, religiosas, místicas etc. que herdamos das gerações antecessoras.

3 – Em ambos os casos compete à Filosofia solucionar os problemas práticos advindos dessas equações, ao invés de apenas retratar a situação.

4 – Ter-se-ia, então, um “Pensamento Filosófico” útil e adequado às necessidades. Uma reação condizente aos problemas surgidos.

Ademais, conforme as suas palavras, também se solucionaria (sic) a dúvida sobre a origem do ato de pensar, de refletir já que: “somente pensamos, quando confrontados por problemas”.

*NOTA do AUTOR – tanto o Pragmatismo quanto o Utilitarismo são essencialmente produtos da mentalidade dominante na sociedade estadunidense. Porém, quase que por ironia, ambos os Sistemas defendem teses muito semelhantes ao Materialismo Dialético de Karl Marx, o inimigo visceral, que mesmo no outro extremo do espectro Político Ideológico dizia que “até agora a Filosofia serviu para tentar explicar o Mundo; doravante deverá servir para modificar o Mundo”.

As Influências sobre DEWEY

Uma vigorosa influência que DEWEY sofreu foi a do naturalista CHARLES DARWIN (Inglaterra 1809 - 1882), o autor de “A Origem das Espécies”. Na obra, como se sabe, ele descreveu os humanos como Seres que fazem parte do “Mundo Natural”, da “Natureza Física” e que, como os outros Seres (plantas, animais), evoluíram em resposta às transformações em seus meios ambientes.

Para DEWEY uma das consequências da teoria “darwiniana é obrigar-nos a pensar que os humanos são simplesmente “Seres da Natureza” e não “essências fixas criadas por Deus”.

Para ele, não somos “almas pertencentes a outro Mundo, imaterial, abstrato”; somos apenas organismos desenvolvidos que tentam evoluir continuamente para sobreviver num Mundo do qual, inevitavelmente, fazemos parte.

O Eterno Devir, A Mudança Constante.

Também de DARWIN, ele absorveu a ideia de que a Natureza é um sistema em constante mutação.

E a partir da aceitação dessa perpétua mudança (O Eterno Devir*), ele passou a tomar essa concepção como ponto de partida sempre que foi levado a refletir sobre quais são os “Problemas Filosóficos e como eles surgem.

Assim ele fez, por exemplo, quando afirmou que “só pensamos quando somos confrontados por um problema”.

Ou seja, só refletimos quando uma mudança no meio-ambiente nos obriga a nos adaptarmos à nova circunstância.

NOTA do AUTOR – observe-se que a ideia do Devir* foi concebida na Grécia Clássica pelo Filósofo Pré-Socrático chamado Heráclito. Aqui, em paralelo, também é possível fazermos uma ligeira comparação entre um “Verdadeiro Sistema Filosófico”, como o do grego, que ainda vigora após ter sido proposto há milênios, com um “Sistema de Pensamentos” de menor substancialidade como o de DEWEY.

O Risco de Existir, a Superstição e a Razão.

Para DEWEY, a existência é um risco ou um jogo e o Mundo é naturalmente instável, mutante. Aquilo que parecia sólido durante anos, de repente se altera totalmente, deixando-nos cabalmente desamparados.

Desse modo, diante de tanta incerteza, para ele só existiriam duas estratégias a serem adotadas:

1 – apelar para místicos “Seres Elevados”, para “Deus*”, “Forças Ocultas” do Universo etc., em busca de socorro;

2 – ou procurar entender Racionalmente o Mundo e conquistar meios e poderes capazes de nos garantir algum controle sobre o meio ambiente, já que dependemos do mesmo para sobreviver e prosperar.

NOTA do AUTOR – embora privilegiem as Coisas físicas, materiais, concretas, o Pragmatismo e o Utilitarismo não fazem apologia ao Ateísmo. Consentem que haja crença em um Deus que castigue ou premie “fisicamente” a (des) obediência à sua Moral e aos seus “Bons Costumes”, com a dádiva da prosperidade, ou com as torturas do Inferno. Como, aliás, se pode observar no fundamentalismo religioso do estadunidense médio. Fundamentalismo que também se propaga velozmente no Brasil por obra das Igrejas Evangélicas. Aos Pragmáticos, inclusive esses brasileiros, interessa que exista a “Crença”, a “Fé”, já que ela atua como freio repressor e/ou como agente motivador para a obtenção de novas aquisições materiais, físicas. E tanto lhes interessa que até toleram a suposta existência de Deus, esse Ser metafísico que negam peremptoriamente em outras áreas.

Sem esconder sua ironia, DEWEY comenta que essa primeira estratégia consiste na tentativa de conquistar a simpatia dos deuses e com ela, a obtenção de seus favores ou Graças.

Para tanto, o crente não hesita em praticar sacrifícios de animais (humanos, se possíveis), rituais diversos (como os despachos, ebós, cultos, missas, novenas etc.), autoflagelações, abstinências e várias outras formas de demonstrar submissão, temor, respeito. E tudo, para tentar agir sobre o Mundo físico, com a força dos ritos mágicos, e ser mais poderoso que qualquer obstáculo racional.

Para ele, essas pantomimas, ao se tornaram rotineiras, ensejaram o aparecimento das fábulas, dos mitos e das lendas que terminaram por embasar as crenças religiosas e as crendices místicas que ainda hoje fascinam o homem e lhes servem como freio e estímulo para o exercício da Moral e dos Bons Costumes.

E, talvez, até como parâmetro de Ética, na medida em que o indivíduo se apossa de noções sobre o Certo e o Errado que supõe serem divinas, portanto, absolutas.

É claro que indivíduos assim, nem cogitam em se perguntar o que é realmente, o Certo e o Errado, pois lhes falta o aparato intelectual necessário.

Por isso, para DEWEY, a gênese desse tipo de apossamento está na tentativa de se imitar os deuses e com isso apaziguar as suas cóleras e a partir daí estabelecer o seguinte escambo: nós, os Seres humanos os tememos e os respeitamos. E até abrimos mão de nossas convicções mais genuínas para aderirmos às dos Senhores Deuses, mas em troca queremos que vós outros nos concedam todas as “Graças” que julgarmos necessárias.

NOTA do AUTOR – neste trecho, talvez DEWEY tenha alcançado a unanimidade entre os intelectuais e entre todos os indivíduos que dispõe de alguma luz. Com efeito, toda religiosidade apoia-se na ideia da troca, da submissão e da concessão.

Em relação à segunda estratégia, ou seja, usar-se a Razão ou Racionalidade para se enfrentar os obstáculos surgidos é preciso observar-se primeiramente que a sua gênese não é Pragmática, nem Utilitarista.

Seu nascimento aconteceu na Grécia Antiga com os chamados Filósofos “Pré-Socráticos” que ao rejeitarem as superstições existentes em sua época, passaram a utilizar-se do Raciocínio para responder às questões levantadas. O que foi, em verdade, o inicio da Filosofia Clássica.

Como o correr do tempo, várias tendências filosóficas aderiram ao Racionalismo, dentre as quais o Pragmatismo de DEWEY.

Assim sendo, quando ele argumentou que apenas o uso da Razão seria capaz de nos permitir algum controle sobre o meio-ambiente, na verdade, estava apenas repetindo uma concepção já bastante utilizada e que apesar das limitações que lhes foram (e ainda são) apontadas era crível para muitos eruditos e seus seguidores.

Acreditavam os mesmos, como muitos ainda acreditam, que só o desenvolvimento racional, cientifico, positivista é que nos permitirá viver sempre com a máxima segurança e conforto possíveis. Pois, apenas através da intelectualidade é que podemos “prever o Tempo”, construir prédios capazes de nos abrigar, plantar sementes melhores, curar doenças etc.

Portanto, cabe à Filosofia desestimular a procura pelo socorro de “Seres Superiores” e de “Forças Ocultas”; e estimular o uso da mente racional para que sejam encontradas as fórmulas capazes de nos explicar o funcionamento do Universo, da Vida para que, num segundo momento, possamos alterá-los a nosso favor.

Cabe à Filosofia, em resumo, abandonar toda a sua antiga tradição e ser apenas uma Teoria Pragmática e Utilitarista.

NOTA do AUTOR – não é raro que a censura que os Pragmáticos fazem aos textos mais complexos e às noções mais profundas, seja compartilhada e entusiasticamente apoiada por todos os humildes de inteligência e/ou de Cultura, que não hesitam em classificar como “papo de intelectualóides” e outros adjetivos condizentes com as suas mendazes condições intelectuais, tudo que lhes escapa da compreensão.

Contudo, deve-se reconhecer que DEWEY teve o bom senso de aceitar o fato de que o controle que podemos exercer sobre o Meio Ambiente será sempre parcial, já que é impossível eliminar todas as incertezas que fazem a vida ser tão perigosa.

NOTA do AUTOR – observa-se que a humanidade caminha para a segunda estratégia apontada por DEWEY. Porém, não o faz por apego à Racionalidade e sim, salvo as exceções de praxe, por uma simples troca de divindades. Deixa-se de acreditar na “Deusa Fortuna” para se acreditar na “Deusa Tecnologia”. O homem, embora seja diferente de seus antepassados na aparência, ainda é o mesmo em sua essência.

Uma Filosofia Luminosa

Como se viu, DEWEY havia relegado a Filosofia a um papel secundário, porém, de modo contraditório, num segundo instante ele afirmou que caberia à mesma agir como uma ponte entre as duas formas de Conhecimento que, segundo ele, sempre coexistiram, mesmo que à custa de uma enorme tensão.

De um lado, a Religião e a Ética. De outro, a Tecnologia e a Arte. Ou, resumidamente, a Ciência de um lado e a Tradição de outro.

Assim, para ele, caberia ao Pensamento Filosófico ser o meio de que nos valemos para superar as contradições entre esses tipos de “Conhecimentos”. Contradições, diga-se, que não são apenas de ordem teórica, mas também de ordem prática, material, como se pode ver no seguinte exemplo: Posso ter herdado várias crenças sobre Ética, ou seja, sobre os modos de me conduzir para viver uma “Vida de Bem”. Porém, eu também posso descobrir que essas Crenças se chocam com o Conhecimento que eu adquiri ao estudar as Ciências. Caberia, então, à Filosofia dar-me o rumo para conciliar as duas Sabedorias, já que ambas contém erros e acertos e que por isso é necessário preservar o que há de Bom e de Verdadeiro em cada uma (imaginando-se que eu pudesse ter a certeza do que é Bom e Verdadeiro).

Dessa sorte, pode-se dizer que a Filosofia seria a Arte de encontrar respostas práticas e teóricas para os problemas da vida. Ou que seria um instrumento útil para solucionar os impasses e tornar a vida física melhor.

Instrumento, aliás, que poderia ter a sua eficácia avaliada segundo os parâmetros do Pensamento Pragmático de duas formas:

1º - deve-se perguntar sempre se o Estudo Filosófico tornou o Mundo mais inteligível (ou mais compreensível pelo Raciocínio). Em, nas palavras de DEWEY: tornou nossa vida mais “Luminosa (clara)” ou mais opaca?

NOTA do AUTOR – neste ponto, nota-se a clara influência de seu parceiro, PEIRCE que argumentava ser o dever de qualquer Estudo Filosófico, tornar as ideias, os conceitos e as noções o mais fácil possível. Qualquer outro resultado não mereceria sequer a consideração dos dois Pragmáticos.

- estaria a Análise Filosófica de uma determinada questão diretamente ligada aos problemas materiais, físicos, concretos da vida? Afinal, é apenas através do fato de ser útil”, ou de contribuir para a produção de maiores riquezas e poderes que se localiza a sua medida de êxito ou de fracasso.

Epílogo

Poder-se-ia contrapor novamente os questionamentos que a Filosofia Verdadeira colocaria ante os Conceitos de “riqueza, poder, luminosidade e outros citados”, mas tal repetição nada acrescentaria, pois a proposta deste Ensaio é apenas apresentar as Opiniões do Filósofo estudado. Nesse caso, do ilustre estadunidense que teve, pelo menos, o mérito de sistematizar um Sentimento que permeia as massas da maior parte do Mundo, desde os primeiros tempos.

Que por isso seja reconhecido, mesmo que seu Pensamento não agrade às mentes mais sedentas de um saber mais profundo e complexo.

Adendo - o Pragmatismo e o Utilitarismo

O Pragmatismo e o Utilitarismo são “Sistemas de Pensamentos” que dispensam as abstrações e as reflexões mais profundas, centrando suas atenções nos aspectos práticos da vida.

Vários Filósofos Clássicos (dentre os quais Bertrand RUSSELL) censuram-lhes justamente por essa falta de comprometimento com a “Verdade Primeira”, com os “Conceitos Superiores”, com a “Investigação Aprofundada” e com os outros temas que são pertinentes à Filosofia.

Alguns outros eruditos negam-lhes inclusive a classificação de “Sistemas Filosóficos”, preferindo reduzi-los à categoria inferior de meros “manuais de como bem satisfazer as necessidades básicas (materiais, físicas) e menores dos Seres humanos”.

Todavia, sendo ou não genuinamente “Filosóficos” tais “Sistemas de Pensamentos” existem e ganham mais adeptos a cada dia, em face da supremacia que os valores materiais e financeiros assumiram em quase todas as partes do Mundo.

Que ambos refletem o rebaixamento intelectual, emocional, ético e espiritual da humanidade é indubitável, restando aos mais esclarecidos e melhores intencionados buscar fórmulas capazes de inserir-lhes um conteúdo de melhor qualidade para com isso recuperar o antigo esplendor intelectual e atenuar os baixos padrões éticos que vigem na atualidade.

E é justamente por isso, que tais “Esquemas de Pensamentos” devem ser conhecidos e estudados, para que num segundo momento possam ser modificados ou eliminados.

 

Produção e divulgação de TAÍS ALBUQUERQUE, desde as Montanhas nas Gerais, no inverno de 2013.

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