Dialética do sentir

Dialética do sentir

 

 

 

Vem, vem comigo

Vamos descobrir a dialéctica de um dia de nevoeiro

Vamos olhar o firmamento

E sentir o orvalho no rosto

Talvez penses, que não á filosofia num dia de nevoeiro

Que será apenas mais um dia de nevoeiro

E que o firmamento não tem nada que admirar

Porque não se avistam as estrelas

Mas se olhares com atenção perceberás

Que elas estão lá cintilantes

E o nevoeiro tem a sua beleza

Quando surge o orvalho no teu cabelo.

 

 

 

O orvalho molha-me o rosto

Será apenas orvalho?!!!

Se observares as pétalas de uma flor...

Verás que são como o riso de uma criança

A quem não fizeram a vontade

Gotas deslizantes que evaporam ao raiar do dia

Como é bela a chegada da Primavera

E como é bela uma manhã de nevoeiro

Vem descobrir a dialética…e argumenta

Que não á beleza numa gota orvalho

Chora comigo numa manhã de nevoeiro

E quando nossas lágrimas se estilhaçarem no solo

Sente o cheiro da terra húmida

O aroma da terra molhada

Numa manhã de orvalho e nevoeiro.

 

 

 

 

 

 

 

II

 

 

 

A filosofia do húmus molhado

Do cheiro do orvalho

Da tristeza de uma lágrima

È como metáfora sentida  

Talvez não sintas os aromas de um dia de Primavera

Talvez não saibas o que é a filosofia

Nem o que é a dialéctica

Mas meu avô que era pastor...e não sabia ler

Saberia sentir se eu clamasse...do que estou a falar

E o seu rebanho sentiria a filosofia de um dia de nevoeiro

Numa manhã de Primavera.

 

 

 

Vem, vem comigo

Vem descobrir a dialéctica

De um dia de chuva, em que adormeci no palheiro

Sentir o cheiro da palha molhada

E ao acordar de um sonho...

Sentir o desejo de voltar a adormecer

Adormecer com o aroma da palha molhada

O pastor (meu avô) descansa sob o sobreiro indiferente á chuva

Mesmo chovendo...o rebanho tem de pastar!

E eu sonho na minha cama de palha

E sinto a filosofia de sonhar...

Numa tarde de chuva em que não quero acordar

Sinto a filosofia de sentir a chuva no rosto do pastor

E o cajado suste o pensamento

De quem trabalhou de sol a sol

Num dia de chuva

E foi para casa de ossos molhados

E alma lavada...

 

 

 

 

 

Jamais esquecerei o cheiro da palha molhada !!!

Nem o cheiro do húmus numa manhã de orvalho!!!

Nem a gratidão de sonhar!!!

E ter conhecido um pastor que levava seu rebanho pastar

No inverno ou no verão...

Vem comigo descobrir a dialética

Dos aromas e da gratidão

Para meu avô que nunca soube ler...

Que de cajado na mão, sustinha o pensamento

E de rosto molhado chora o orvalho

Que nas manhãs de Primavera faz a erva crescer

Para os rebanhos continuarem a pastar

E eu sentir os aromas da terra e da palha molhada.

 

 

 

 

III

 

 

Vem filosofar comigo!!

Vem descobrir a dialética

Vem sonhar e sentir os aromas do verão

Desta brisa quente e seca que queima o rosto

E arde nos olhos…e nos faz chorar

Pastor que partiste… e não te despediste do rebanho

Nem de mim…

Sabes?! O sobreiro continua a abrigar as ovelhas

E quando chega o fim do dia, voltarão ao palheiro...

Só tu não voltaste a casa, apenas voltas ao meu pensamento

E relembro com alegria…o sentido que davas em ser pastor.

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