Diante do tumulo de Salvador Corrêa de Sá (Visconde d'Asseca) e de sua filha.[1]
Autor: Bulhão Pato on Tuesday, 12 February 2013
«Não sabe o que é padecer, Quem o filhinho que adora Não viu ainda morrer!» (A. Garrett) --«Bem sei que era exilio a terra Para ti, anjo do ceo! Porém, filha, abandonar-me Quando toda a minha vida Era a luz d'um olhar teu! Ouvir essa voz infante, Ver a impaciente alegria De teu candido semblante! «Deixar-me assim na existencia Triste, só, desamparado, Aquella flor de innocencia! Que lhe fiz? tinha-a cercado De quanto amor neste mundo Pela mão da Providencia A peito de homem foi dado! Oh! que affecto tão profundo! E tu pudeste partir? Pois não tiveste piedade D'esta solemne amargura, D'esta infinita saudade? Vi-te inda olhar-me, e sorrir, Erguer os olhos aos ceos, No instante de proferir, O fatal e extremo adeus!... ........................... ........................... «Oh! volve outra vez a mim, Desce á terra, anjo do ceo, Vem dar-me a ventura emfim! ........................... ........................... Olha: o vivo sol de Abril Já nestes campos rompeu; As rosas desabroxaram; O rouxinol desprendeu A voz em saudosos cantos; Os sitios onde passaram Os teus descuidados annos, Não os vês cheios de encantos? São estes! a mesma fonte, Ferve alem; naquelle outeiro O mesmo casal alveja; As ramas do verde olmeiro, Dão sombra á modesta igreja Onde tu vinhas resar, Quando o som da Ave-Maria, N'hora meiga do sol posto, De vaga melancolia Toldava teu bello rosto! Tudo o mesmo!?... esta inscripção!... Este nome!... anjo do ceo, Este nome, filha, é teu!! Oh! meu Deus, por compaixão, Na mesma pedra singela, Juntae o meu nome ao d'ella!»-- ............................... ............................... ............................... E Deus ouviu a oração... O mesmo tumulo encerra Filha e pae. Na mesma lousa Onde repousam na terra, Uma lagrima saudosa Vem hoje depôr tambem A esposa, a viuva, a mãe! 1854. [1] Quem tratou de perto Salvador Corrêa de Sá (Visconde d'Asseca) conheceu um dos caracteres mais nobres da nossa terra. Estes versos dedicados á sua memoria são um testemunho de saudade bem humilde, mas bem sincero. Um dia o braço da Providencia arrebatou-lhe uma filha, anjo que principiava a abrir as azas candidas, e que subindo ao ceo levava o coração d'aquelles que lhe haviam dado o ser. Em breve ao lado do estreito tumulo onde ella repousava ia juntar-se o cadaver do pae!
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