Ditem que eu sou a Louca e eu cantarei mais alto que a loucura.
Agito as águas calmas em ondulações de desejos, prescrevendo a loucura onde cantarei mais alto. Transformo o corpo no vento solar das marés vivas e a fala das pedras no novo cântico.
Troco o silêncio da noite pelo espanto da manhã, bebendo cada raio de sol que ilumina a rosa, são serenatas de emoções novas com que elevam os meus olhos.
Fiz-me silhueta de Amor e herdei de ti o poder da sedução, bordei a hora da espera no tempo, o lugar da saudade no espaço, a leveza do amar no Ar, a liberdade de te ter no voo do pássaro, o teu corpo no meu leito e a tua voz na minha presença.
Avisto as montanhas fragilizadas onde moldei a esperança em ramos robustos. Meu coração atento caminhante da calçada da vida procura-te o fugaz aconchego da pele” o Abraço”.
Abro a porta do mundo e a ficção suprema do grito da gaivota, cravada no peito roto do corpo, estreme a urgência do tacto, batendo-me com precisão o murmúrio da vertigem. São os instantes quentes do sangue imaginário, as línguas salgadas do mar, a minha loucura vazia e as tuas tormentas.
Atravesso a transparência da consciência tomada, palmo a palmo contra o sol da ânsia tomo a palavra, beijo a sílaba da nudez crua, desfaço o verbo do texto e bebo a caligrafia da mente nua.
Apagam-se os olhos na madrugada, não sei se respiro, não sei se quero. Um silêncio dilacerante procura a falha, derrama o corpo fora do caminho e perde a construção do verbo andar e voar adjectivando a loucura e Ditem que eu sou louca e eu cantarei mais alto que a loucura.
Gila Moreira