Do erro lindo

Do erro lindo
 
Do alto de uma colina observa-se o bulício de uma cidade bela que vista dali parece inacessível.
Todo o seu restolhar é a banda sonora de um sem fim e sem princípio de sons que se entrelaçam uns nos outros como vasos comunicantes.
Na perene solidão dos heróis anónimos de outrora que a habitam há um esgar de sacramentalidade, que se multiplica por mil partículas que se esfumam desde o zénite até ao infinito. Não pode haver qualquer parcimónia quando a ampulheta não pára a areia do cruel tempo. Esses heróis de outrora transportam consigo a ideia de que estão no corredor dessa vil e cruel corta vidas, que dentro em breve transporão a porta de entrada para a eternidade. Esses heróis de outrora solitários são fiéis depositários do conhecimento que as suas vidas lhes permitiram ter e contribuir para o avanço da humanidade.
Há também na mistura solitária da geometria dessa cidade, pessoas vis de outrora, que foram capazes de produzir atrocidades como violência contra pessoas inocentes, com uma enorme incapacidade de defesa e que por isso sofreram horrores.
Heróis ou vilãos de outrora misturam-se na geometria da mesma cidade que os acolhe no seu leito sem qualquer distinção. Ambos os tipos de seres da mesma espécie aguardam o mesmo fim misturados na cidade buliçosa, onde a solidão é um denominador comum.
Vista da colina a cidade é esmagadoramente intensa de cores, linhas e traços belos, fabricados pelas mãos dos heróis anónimos de outrora.
A humanidade é de facto um erro lindo, com as suas duas mesmas mãos é capaz de produzir as maiores e mais belas obras de arte e avanços científicos, e cometer as maiores atrocidades à sua própria espécie...
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