*DOENTE*

Podesse eu junto a mim--eternamente!--
Sentir roçar, meu bem! o teu vestido
E ó ventura! o teu bafo enfebrecido,
Teu doce olhar e o teu sorrir doente!

Caia do monte o cedro! a grande molle!
Que feneça a _herva prata_ lá no val--
Que me importa!--e qual é meu grande mal
Que morra o cedro, e a planta s'estiole!...

Mas tu, meu bem! mais bella que a _herva prata_
Banhada pelo orvalho transparente...
Não quero que te vás de mim, ingrata,
--Nem teu olhar, nem teu sorrir doente!

Mais depressa em mim vôe ave agoureira...
E que o sepulcro avaro me abra os braços,
Não veja herva crescer apoz meus passos,
--E me maldiga a flor da larangeira!

Mais depressa em meu leito morra o somno,
Não brilhem mais no ceu constellações,
Que as folhagens me lancem maldições,
--Nem hajam fructos para mim no outomno!...

Mais depressa que a vinha que conforta
Me negue a sua sombra!--Noute e dia
Não luza para mim luz de Alegria,
--E que a Tristeza durma á minha porta!...

Por que tu, se te vaes--no teu lençol
Levarás, doce riso dolorido!...
Como uns fios pegados n'um vestido,
Todos os raios d'ouro do meu Sol!

E, em tudo, julgarei vêr teu vestido,
No mar, na estrella azul, nos ceus; em tudo;
--E quando, acaso, a fronte erguer do estudo
Faltar-me-ha o teu riso dolorido!

Por que tu tens disperso em meu caminho
O teu sorriso triste... ah! triste, e puro...
--E abrigarei depois... um odio escuro,
Mais rude do que um cardo, ou que um espinho!

E não mais, nada me ha de consolar!...
Nem a Estrella da tarde mensageira,
Nem o Amor, nem a flor da larangeira,
--Nem a sombria musica do Mar!...

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Ah! podesse eu, meu bem! o teu vestido
Sentir roçar por mim--eternamente!
E, ó ventura! teu bafo enfebrecido,
Teu doce olhar e o teu sorrir doente!...

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