Elogio aos locais incomuns

Do alto de uma miragem avistei o rasto do sol a beijar o mar, momento de ternura extrema porque delicado e elegante. Mar e sol, dois elementos essenciais à vida que se quer em plena comunhão com a natureza. Nesse momento digno de registo tudo parou e o mundo transformou-se, do dia se fez noite e tudo foi absorvido por um enorme manto negro sedoso pejado de pequenos pontos de luz brilhantes. A cidade transmutou-se em cores e formas que as estrelas e a lua fabricaram com o seu brilho. No bulício da cidade o cosmopolitismo impera e milhares de rostos de todas as geometrias deambulam, uns sem destino e outros com destino bem definido. As geometrias dos lugares incomuns avistam-se e vão-se desenvolvendo à medida que os nossos passos nos levam mais além. A água do rio caminha com vigor para o grande oceano atlântico, nas suas margens a arquitetura humana erigiu autênticas obras de arte e a paisagem transformou-se em algo profundamente belo para os sentidos. Há algo de muito sacramental nestes locais onde o olhar pousa repousante, como se o grande arquiteto do universo tivesse criteriosamente e com toda a delicadeza produzido estes locais para o deleite dos nossos sentidos. Se as rotinas nos fecham nas nossas vidas e as tornam imunes às pequenas grandes obras do Deus das pequenas coisas, torna-se urgente derrubar os muros da indiferença para que a vida passe a fazer sentido.

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