EM UM RETRATO

 

De sob o cómoro quadrangular
Da terra fresca que me ha-de inhumar,

E depois de já muito ter chovido,
Quando a herva alastrar com o olvido,

Ainda, amigo, o mesmo meu olhar
Ha-de ir humilde, atravessando o mar,

Envolver-te de preito enternecido,
Como o de um pobre cão agradecido.




Voz debil que passas,
Que humilima gemes
Não sei que desgraças...

Dir-se-hia que pedes.
Dir-se-hia que tremes,
Unida ás paredes,

Se vens, ás escuras,
Confiar-me ao ouvido
Não sei que amarguras...

Suspiras ou fallas?
Porque é o gemido,
O sopro que exhalas?

Dir-se-hia que rezas.
Murmuras baixinho
Não sei que tristezas...

--Ser teu companheiro?
Não sei o caminho.
Eu sou estrangeiro.

--Passados amores?--
Animas-te, dizes
Não sei que terrores...

Fraquinha, deliras.
--Projectos felizes?--
Suspiras. Expiras.




Na cadeia os bandidos presos!
O seu ar de contemplativos!
Que é das feras de olhos acesos?!
Pobres dos seus olhos captivos.

Passeiam mudos entre as grades,
Parecem peixes n'um aquario.
--Campo florido das Saudades
Porque rebentas tumultuario?

Serenos... Serenos... Serenos...
Trouxe-os algemados a escolta.
--Extranha taça de venenos
Meu coração sempre em revolta.

Coração, quietinho... quietinho...
Porque te insurges e blasfemas?
Pschiu... Não batas... De vagarinho...
Olha os soldados, as algemas!
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