Engenheiro

Maquinário das emoções, 
Sob domínio de seu engenho, 
Ele dá passo a passo
A cerimônia de suas afeições.
Liturgicamente célebre em controle,
Em ritual sem deidades e padres;
Blasfemando contra sua natureza: 
Cérberos latem contra a alma.
Não sente nada que não deseja,
A não ser a mordida da vontade 
Que pereça: rasga suas veias
Porque não suporta sentir.
 
A cada ocorrido fúnebre,
Suas ferramentas enferrujam
A cada gota de óleo escorrida dos ossos,
Sua chave emperra nas soluções.
Aperta, aperta, o parafuso!
Sofra, sofra a tormenta das pulsões!
Ele se vê como robô, uma máquina 
Programada ao amor ou angústia.
Só que não percebe o óbvio.
 
Emoções são regidas por um brilho
Cortando a via láctea, fugazes 
Ao nascer do amanhã, mas o amanhã
Não se ilumina, não se sente e nem entende
Até porque ele não existe ainda.
Sentimentos são o mesmo, não são táteis
Suas qualias são subjetivas, a sensação 
Mediante ao objeto é viva, mas irreal.
O controle é pífio e a roda da engrenagem
Gira sem maquinário.

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