*ENTRE OS ARVOREDOS*

Calma silentia lunae.
     (Virgilio)

Recordas-te essa noute, ó bella desgostosa!
Que nós andámos sós e tristes divagando,
Entre as folhas e o vento, o vento leve e brando.
Aos lividos clarões da lua silenciosa?!...

Callados e atravez da grande sombra escura
Dos cerrados pinhaes e augustos castanheiros,
Como as almas leaes e antigos companheiros,
Unidos a gemer a mesma desventura!

E eu sentia-te, ó grande e triste Abandonada!
Em meu seio verter as tuas fundas maguas,
Ao rythmo trivial e nitido das aguas,
E á alva e fina luz da hostia levantada!

E andámos a gemer a nossa dôr intensa,
E abrindo os corações, os langidos segredos,
Aos ais soltos no ar dos grandes arvoredos,
E ás vastas afflições da natureza immensa!

Que dôr assim será?--Que dôr será egual!
Á quella immensa dôr? ó pallida vencida!
N'aquella natureza augusta e condoida,
E áquella branca luz, mais fria que um punhal!...

..........................................

Ah! nunca mais virá, ó branca desgostosa!
Aquella vez que nós andámos divagando,
Entre as folhas e o vento, o vento leve e brando.
Aos lividos clarões da lua silenciosa!...

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