Esboço

Alinhavo pensamentos com um lápis sem limites

e faço-o lentamente, numa geometria perfeita.

Revejo as sensações de dar, de receber,

e da imersão sem fim

apagando a distância, matematicamente complexa

entre os meus lábios e os cambiantes do teu corpo.



Desenho ideias de essência escorregadia

nascidas dos sentidos moldados em barro.

Melodias sopradas através da neblina

que abrasam e refrescam na corrente veloz

abaixo da linha superficial do inalcançável



num rio de saciedade...



Percebo a dualidade, poeticamente inigualável:

metáfora revelada pelo fogo dos nossos elementos comuns

ou cascata balsâmica e desejo,

e apenas desertos...



Partilhámos visões intoxicantes e palavras

ao mesmo tempo que despíamos uma a uma

cada camada de nós mesmos.

De chuva, sol e espuma fresca

como lava,

para matar a sede de cada uma e todas as tuas células.



São tuas as palavras que me penetram a alma

e neste feng shui mágico rodam e dançam

ao ritmo da água e do vento,

que circulam hipnoticamente impertinentes no teu hálito,

e escorrem como mel das tuas mãos.



No fim, um beijo profundo ou um encontro



(Foi isto um fim ou um começo

um círculo de espectros ou um cerco ao coração?)



É na simetria radial, e no sabor rotativo

que a final concordância é arrastada para a névoa,

e repete afinal o que já era conhecido

acima do ponto de fuga.

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