Esculpindo a imaginação
Autor: Frederico De Castro on Monday, 27 March 2017
Acende-se o dia depois da noite
que se perdeu num olhar perfumado
ferindo cada gomo de luz contemplativo
bruxuleante algemando o tempo resignado
e tão apelativo
Soltam-se então outros murmúrios
escondidos no laboratório dos meus lamentos
enquanto sorvo deste silêncio o balido delicado
de um sorriso proliferando entre olhares de acasalamento
Ficou só minha tristeza
numa mísera agonia alucinada e obcessiva
Decretei às solidões da noite o exíguo momento
onde alimentamos com preces despidas
as saudades embebidas nas arestas do tempo
regurgitando precocemente ressarcidas
A harmonia do tempo em fuga
tatuou nos meus versos aquela rectangular
existência onde nos envolvemos
morosos, loucos, desalmados
incendiando a nudez dos silêncios
quase inúteis onde engavetamos
os desejos quânticos e sintáticos
num brutal silêncio ferozmente consumado
Na substância dos dias mascarados de prazer
hei-de habitar-te esfaimado
Cogitar um sonho onde os gestos
se confundam no écran do amor assim
satisfeito e velado
Profanar-te as sombras quando te
revelas,ávida, exaltante
ininterruptamente arrojada e radiante
Todas as ausências se tornaram como
desertos ressequidos
exílio de muitas saudades devorando
sílaba a sílaba minha solidão acocorada entre
destroços e lamentações assim alastrando
Na arena do tempo soltam-se os gladiadores
de todos os coniventes momentos estoicos
reconstruindo o anfiteatro de cada paixão
num etrusco heroísmo legendando a iconografia
de um combate esculpido e arquitctado
na semelhança da mais fiel e prodigiosa imaginação
FC
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