Espreitadelas
Autor: Frederico De Castro on Thursday, 11 August 2016
Fui no tempo pintando teus relevos no vento
Escrutinei os céus em busca dos beijos
filtrados pelas nuvens onde sequencialmente
nos albergamos satisfeitos
Fui no tempo nutrir-me de vida
protagonizar outros segredos deixados
amarrotados em lençóis despojados de memórias
Fui decretar aos sentidos que sem malícias
um dia nos extasiamos
quebrando todas as demências
curtindo cada tempo desta existência
Domesticámos as esperas
despimos as saudades
ressuscitámos o silêncio
onde exprimimos
actos consentidos de amor
habitando as manhãs transitórias
amadurecidas de euforia tão migratória
Um dia nossos seres deixarão esculpidos
com elegância inconfundível
os ecos deste amor
para gáudio dos empanturrados
desejos em plena simetria
ou num calafrio tiritando entre a caruma
do tempo passando pelo tempo quase indivisível
Fui
e não mais voltei
Deixei outras ausências
estampadas na indigência
dos tempos
Simplesmente faleci
neste vagar dos ventos
onde proscrito me entrego
peremptório e homologado
espreitando-te súbtil
na extravagância desse gingar
quando por mim tão alegre
e graciosa serpenteias
e eu...louco, morro feliz
engolindo todas as lágrimas
neste silêncio onde por ti irei naufragar
FC
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