Estático
A minha mente é como a neblina estática e vazia. Ela permanece ali, com seu cheiro amadeirado e com seu toque adocicado de tenaz idealização; o contraste da incoerência foge de minhas mãos, assim como a clara luz desaparecida no breu que é o meu sentimento. A vontade de permanecer no ar transpassando noites, dias, verões, outonos, invernos e primaveras está esgotada por amargos pedaços de ambrosias angustiantes. Após mastigá-las, a explosão de sofrimento sai dos meus lábios e transpassa em estações obscuras para o meu próximo. O néctar do grotesco é como minha psique é demonstrada, ela é feia, mas é sincera. A sinceridade que forma minha moral é como o fruto proibido: todos desejam comer, mas não estão dispostos a pagar pelas consequências.
Todas palavras, verbos e sentenças foram lançadas em orquestras sinfônicas de mestres que um dia partilharam minha neblina. A nota em baixa escala é a música de minha existência, lenta, deprimente; melodramática em si mesma. A corda do violino é rasgada por persistência de crenças inferiores. Mas veja bem, não tenho culpa em enxergar o óbvio. O meu assento é impotência e falta de vontade. Mãe letargia me petrificou com seu olhar apático. Eu não me movo, não choro, não rio, não faço nada. O martelo da morte seria-me como a amálgama da filosofia: fundir a fraqueza com falta de fraqueza, o bem e o mal e a vida com a morte.
Agora eu me vejo estático nessa sala pela vida — mastigando minha dor, na escuridão do amor, sugando a brutalidade da honestidade, ouvindo a sinfonia da agonia e quebrado pela vontade.