Estados de sítio
Autor: Frederico De Castro on Friday, 3 July 2015
Sonho-te
grato pelas ondas
oceânicas que navegam em mim
excepcionais
embelezando com tanta fúria
minhas encostas brilhando
translúcidas
gotejando no sopé de cada margem
novos cânticos
trajando amores inalienáveis
poemas precoces
escritos a esmo
vivificados no tempo
– Agenda pra mim
uma cerimónia transpirando
vida
congrega cada tom musicado
em sonoras gargalhadas
ávidas pelo reencontro
acometido, profético
entre nossas ausências
compelidas
entre mil tréguas
pousando convidativas
onde rompe mais um dia de vida
esquiva,dolorosa,
perpétuamente enaltecida
– Saibamos nós temperar
o tempo que nos foge
quase inédito
repetindo todos os roteiros
na viagem intemporal
desprevenida
concedendo-nos em cada
oração tão álgica
uma existência fremente
onde nunca relutantes
pavimentamos nossa fé
tão estereofónica…assim redimida
– Eis minha vontade
agora redesenhada nestas linhas
empanturradas de palavras reticentes
apenas premiando este desleixo
que sei
não sei mais como escrever
um poema sem rimas
imprevisíveis ou displicentes
morrendo dispersíveis neste tédio furtuíto
quando me deixaste na planície
da solidão
comendo-me de fastio
quase tão apetecível…amiúdadamente
instintivo
– Não mais me encontro
entre aqueles milímetros de tempo
onde habitei
escravo de tanta oratória
perpetuada em todos os meus
estados de sitio
esgueirando-se de mansinho
neste laboratório do amor onde
efectivamos tantas vidas
imergindo nas reacções em cadeia
arquitectando-nos tão apelativas
nas mãos deste teu servo
que em ti habita
equitativo
passeando sossegadamente entre
teus poros
bramindo contaminados
naquele perfume feliz quase intocável
onde nos vinculamos palmo a palmo
céleres, definitivos…implacáveis
FC
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