Estando o A. doente, e mandando pedir algum prato á meza...

_Estando o A. doente, e mandando pedir algum prato á meza, aonde jantava
o sobredito Leigo_.

Hum estomago cansado,
De cuja antiga ruina
Tem sido cauzas iguaes
A molestia, e a Medicina;

Que tendo em si dos tres Reinos
As perigozas heranças,
Só não bebeo das Boticas
Os S. Migueis, e as balanças;

Hum estomago sem forcas,
E ás leis geraes ínfiel,
Que não trabalha em diamante,
Como o de Fr. Manoel;

Que não tem, como este Padre,
Tanta fome obediente;
E olha já para a gallinha
Como elle olha para a gente;

Para emendar semrazões,
Que faz Arte, e Natureza,
Vai, fugido das Boticas,
Acoitar-se á vossa meza;

Mil vezes por outra cauza
Teve a honra de bussalla;
Indo então por matar fome,
Vai hoje por despertalla;

Perdiz, ou branda vitella,
São deste remedio o nome;
Da vossa esplendida meza
Seja elogio huma fome;

E porque o Padre o não saiba,
Será a melhor cautella,
Mandar tirar a iguaria
Quando elle olhar para ella.

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